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Entre o lucro contabilístico e a perda de identidade desportiva

Pedro Carvalho
Opinião \ quarta-feira, novembro 12, 2025
© Direitos reservados
O Vitória Sport Clube, instituição centenária e de enorme relevância no panorama vimaranense e nacional, precisa de uma liderança que compreenda o seu peso histórico e o seu papel no futebol português

Infelizmente tive a necessidade de escrever e denunciar, ao longo do mandato anterior e atual de António Miguel Cardoso, enquanto presidente  do Vitória Sport Clube e da respetiva SAD,  aquilo que era, e é, uma evidente má gestão financeira e desportiva, levada a cabo por aquele e restante equipa diretiva, que nunca tiveram um projeto, nem uma solução financeira para a difícil situação económica herdada. Como felizmente a bola ia entrando, os resultados desportivos eram satisfatórios de acordo com atual nível de exigência do clube (e dos sócios), com um surpreendente bom desempenho na Liga Conferência, muitos sócios preferiram ignorar a realidade, que se foi agudizando até chegarmos a esta situação atual onde já se pondera a alienação da maioria do capital.

A gestão de António Miguel Cardoso revela ostensivamente, de forma cada vez mais evidente, o esgotamento de um modelo que privilegia o curto prazo e a venda de ativos por qualquer preço, desde que apareçam propostas (boas ou más), em detrimento da construção de um projeto sólido, desportivo e financeiramente coerente. Apesar do lucro apresentado no último exercício, a realidade é que o passivo do clube foi sempre aumentando durante os quatro anos de gestão deste presidente — um dado que desmonta o discurso triunfalista que a direção tenta projetar. O lucro, assente em receitas extraordinárias decorrentes de vendas de ativos (a maioria ao desbarato) e de receita resultante da participação na Liga Conferência, não traduz sustentabilidade; traduz apenas sobrevivência.

Como se não bastasse, neste defeso, no mercado de transferências, António Miguel Cardoso demonstrou não só a ausência de rumo que já caraterizava a sua gestão, como uma incapacidade de gerir e liderar homens e mulheres, profissionais do clubes, e de lidar com as respetivas personalidades, egos e vaidades. Aliás, António Miguel não foi capaz de gerir o seu próprio ego e sua personalidade egocêntrica, decidindo por impulso, sem qualquer racionalidade, dispensando e vendendo os direitos desportivos de jogadores nucleares por verbas irrisórias, desfalcando inopinadamente o plantel dos seus melhores jogadores e que poderiam (e deveriam) ter sido rentabilizados, se não desportivamente, financeiramente. O plantel foi praticamente desmontado no início da temporada, sem critério desportivo e sem reposição de qualidade equivalente.

António Miguel Cardoso tem-se mostrado um líder incapaz de unir, de inspirar e de proteger o plantel e o património material e imaterial do clube. O seu estilo de presidência oscila entre a rigidez autoritária para com os mais frágeis e a complacência para com os mais poderosos — um traço que o torna forte com os fracos e fraco com os fortes.

O resultado está à vista de todos. O Vitória apresenta um passivo de quase 70 milhões, dívida de curto prazo superior a 30 milhões,  e no plano desportivo, apresenta uma equipa curta, sem profundidade e sem experiência em posições chave. Os resultados desportivos — entre derrotas evitáveis e vitórias tangenciais — denunciam um conjunto que luta mais contra as suas próprias fragilidades do que contra os adversários. Falta qualidade, falta maturidade competitiva e, sobretudo, falta rumo.

O Vitória Sport Clube, instituição centenária e de enorme relevância no panorama vimaranense e nacional, precisa de uma liderança que compreenda o seu peso histórico e o seu papel no futebol português. António Miguel Cardoso prometeu modernizar, profissionalizar e valorizar o Vitória (o famigerado slogan MAIS VITÓRIA), mas o que se vê é uma gestão marcada por improviso, fragilidade negocial e ausência de visão estratégica.

A médio prazo, se não houver correção de rumo, o risco é claro: transformar o Vitória num clube vendedor por necessidade, permanentemente dependente de um lucro ilusório, e afastado da sua verdadeira vocação — a de competir com ambição e dignidade entre os melhores. Entre o lucro contabilístico e a perda de identidade, o Vitória está, neste momento, mais pobre. Não só nas contas, mas na alma.

Pedro Miguel Carvalho

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