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Espetáculo

Bruno Fernandes
Opinião \ quarta-feira, junho 02, 2021
© Direitos reservados
Domingos Bragança, em ano de campanha eleitoral, quer tirar uma selfie com o Presidente. Para conseguir o espetáculo, está disposto a tudo, até a mudar a Batalha de São Mamede para o dia 23.

Vivemos tempos estranhos em que tudo é transformado num espetáculo. As redes sociais querem instantâneos, fotografias virais, podem ser vídeos, logo que curtos e diretos ao assunto. As televisões seguiram a tendência, os serviços noticiosos intercalam notícias com momentos de entretenimento, ao ponto de já não ser possível distinguir uma coisa da outra.

Os políticos (alguns) também seguiram por este trilho. Não importa o conteúdo, o que interessa é a forma e a forma tem que ser espetacular, para ter likes, para se tornar viral, para chegar aos noticiários e às manchetes, para vender, para conquistar votos.

Tudo pode ser mercadoria neste espetáculo permanente em que se tornou o nosso quotidiano, as relações entre homem e mulher: “Quem quer casar com o agricultor?”

Não há nada que não se possa por ao serviço do espetáculo. As televisões (salvo raras exceções) difundem até à náusea o vídeo de uma criança a ser vítima de violência por parte dos colegas. Multiplicam por quantas pessoas visualizarem o vídeo a humilhação. Mas, o que interessa é o espetáculo.

Vem isto a propósito da política espetáculo que se tornou o padrão da governação autárquica, em Guimarães. Há muito que a eficácia das medidas deixou de importar, por vezes não interessa sequer se a medida é ou não implementada, o que interessa é o efeito mediático. É preciso anunciar e fazê-lo com pompa, para que o espetáculo resulte.

Diz-se que “num curto espaço de tempo” uma contrastaria virá para Guimarães. Quase um ano depois, não só a contrastaria não veio para Guimarães como percebemos que o vereador responsável pela medida está completamente alheado do que se passa com o setor. Solução: anuncia-se uma reunião e na sequência faz-se um novo anúncio, com gala. The show must go on!

Promete-se a reabilitação de uma escola em 2014, passados sete anos, a obra ainda está em fase de projeto e o Município não é capaz de avançar com uma data para a abertura do concurso. Solução: faz-se uma apresentação do projeto de arquitetura, com umas imagens em 3D para distribuir à imprensa. Um belo espetáculo.

Guimarães falha redondamente o objetivo de ser Capital Verde Europeia. Não faz mal! Coloca-se uns outdoors a dizer somos finalistas e o espetáculo continua.

A tudo isto os vimaranenses já se foram habituando, mas que até o 24 de junho, o dia em que se celebra a fundação da nação e uma certa forma especial de ser português que é ser cidadão deste concelho onde tudo começou, seja agora reduzido a um espetáculo, isso os vimaranenses não estariam à espera.

Há coisas que não devem ser negociadas, por terem um valor absoluto. A “primeira tarde portuguesa” é importante para os vimaranenses que fizeram dela parte da sua identidade, por isso o feriado do concelho se celebra neste dia e, também por isso, se fala da possibilidade de fazer deste dia feriado nacional.

Apesar de saber tudo isto, o que se prepara Domingos Bragança para fazer?

Vai mudar a cerimónia protocolar do 24 de junho para o dia 23. O motivo evocado é a indisponibilidade de agenda do Presidente da República. O motivo não evocado é que Domingos Bragança, em ano de campanha eleitoral, quer tirar uma selfie com o Presidente. Para conseguir o espetáculo, está disposto a tudo, até a mudar a Batalha de São Mamede para o dia 23.

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