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Governar é prever ou o triunfo do porco no espeto

Francisco Brito
Opinião \ terça-feira, julho 29, 2025
© Direitos reservados
Numa altura em que as eleições autárquicas se aproximam aguardamos com expectativa as soluções para os problemas dos últimos anos e para aqueles que previsivelmente se avizinham.

Numa altura em que a revisão do PDM está em cima da mesa, talvez seja bom pensar um pouco na análise sobre Guimarães feita pelo Arq. Nuno Portas que recentemente nos deixou.

A propósito do seu trabalho na década de 1980 para a reorganização urbana do concelho de Guimarães, este reputado Arquitecto afirmava que Guimarães era um caso raro pois tinha um centro histórico precioso, mas vivia uma situação fora do comum, uma vez que dos seus 150 mil habitantes apenas 50 mil residiam na cidade.

Hoje, Guimarães continua a concentrar a maioria da sua população fora da cidade. Esta realidade, difícil de mudar, tem custos graves para o concelho (basta pensar nos transportes públicos, na restante mobilidade, no saneamento, no dispêndio de recursos para a construção de infraestruturas e no impacto ecológico para perceber isto). É de notar que mesmo em zonas próximas da cidade com grande concentração de fogos, como é o caso da encosta da Penha, dizem que há várias licenças de construção activas mas ainda sem edificações, o que significa que se os promotores decidirem construir a densidade de construção irá aumentar ainda mais numa área que nunca devia ter sido planeada daquela forma. E dentro daquilo a que chamamos “cidade”, ainda há várias zonas onde peão parece estar fora de uma área urbana pois os passeios desaparecem ou é necessário passar debaixo de algum viaduto mal iluminado ou por vielas para aceder a certos bairros centrais.

Do que se fez em Guimarães nas últimas décadas é obrigatório destacar o excelente trabalho desenvolvido no Centro Histórico e nas áreas adjacentes.  Mas talvez seja a altura de dizer claramente que a política para o concelho e para o território determinada nos anos 80 (e seguida daí em diante) teve como principal objectivo suprir as necessidades do momento e não preparar o futuro (o que dado o contexto da época é perfeitamente compreensível e não terá sido fácil!).

Volvidos todos estes anos, muitos dos principais problemas do concelho continuam por resolver. As vias que ligam a cidade às principais vilas do concelho (Pevidém, Ponte, Taipas, etc.) são desadequadas, continua a não existir espaço para expansão ou fixação das indústrias e os transportes públicos (apesar das melhorias concretizadas) continuam a estar longe de satisfazer os utentes.

Muitas das propostas de todas as forças políticas para resolver estes problemas (algumas apresentadas há mais de 20 anos!) parecem já ultrapassadas uma vez que, entretanto, se deu o advento do carro elétrico, de novas formas de mobilidade, de novas formas de trabalho (que mudam a relação entre o território e o individuo),  surgiu uma “crise da habitação” que coabita (mal, imagino) com a palavra “luxo” com que se promove tudo o que se constrói na cidade,  intensificaram-se as mudanças climáticas (que trazem novos desafios na gestão do território) e – convém sempre lembrar – estamos a viver uma revolução industrial.

Numa altura em que as eleições autárquicas se aproximam aguardamos com expectativa as soluções para os problemas dos últimos anos e para aqueles que previsivelmente se avizinham. “Governar é prever” disse um dia o famoso Chefe Abraracourcix. Mas em tempo de eleições o triunfo costuma ser o do porco no espeto.

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