Guimarães e a “Bazuca Europeia"
Virtude, porque o amor que nutrimos pela nossa cidade faz-nos preservar cada um dos seus cantinhos como se fosse efectivamente nosso, enaltecendo-A sempre de forma apaixonada. O nosso maior defeito, porque, por vezes, inebriados pela sua beleza e imponência histórica, adormecemos à sombra das glórias do passado, e deixamo-nos ultrapassar por outras cidades, com condições menos vantajosas à partida.
Vem isto a propósito da tão falada “bazuca” Europeia – o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) - que em conjunto com as verbas do PT2030, colocará ao dispor do país, entre 2021 e 2030, cerca de 50 a 60 mil milhões de euros, uma verba entre 25% a 30 % do PIB (só o PRR representa cerca de 14 mil milhões de euros).
Ora, os mais variados quadrantes da economia, as associações sectoriais, bem como as diversas regiões e municípios começam já a acotovelar-se para assegurarem a “pole position”, no acesso a uma fatia, do enorme bolo que já está a sair do forno.
Ainda na semana passada, o “Correio do Minho” noticiava a constituição da Associação Empresarial do Minho, cujo objectivo, nas palavras do presidente da comissão instaladora são: defender “objectivos estratégicos para a região”, nomeadamente a reclamação de mais apoios ao tecido empresarial. Dinamizando “actividades, programas, plataformas e redes que facilitem a transição energética e a transição digital”. Mais alinhado com os objectivos estratégicos do PRR seria difícil.
E o tecido empresarial Vimaranense? Estará organizado e a posicionar-se para aceder a estes fundos europeus, que constituem uma oportunidade única para a transformação das empresas, tornando-as mais sustentáveis, mais amigas do ambiente e ao mesmo tempo incrementando a sua produtividade através da transição digital?
Não existe em Guimarães, uma associação que agregue os interesses de todo o seu universo empresarial. Mesmo a ACIG (já extinta), sempre teve um pendor muito mais comercial - no sentido de apoio ao comércio tradicional - do que de apoio à indústria e ao sector dos serviços. O que é difícil de compreender, num concelho com uma indústria pujante e fortemente exportadora. De acordo com dados do INE para o ano de 2019, Guimarães é o 10º município exportador do país, com um volume de exportações de 1,4 mil milhões de euros. Note-se que em 2013, ocupava a 8ª posição, tendo sido ultrapassada por Braga (que passa do 12º para o 4º lugar) e pela Maia.
Não será este o momento para os empresários Vimaranenses unirem esforços, criando uma associação que defenda os seus interesses comuns, nomeadamente através da definição de uma estratégia alinhada com os conteúdos programáticos do PRR e do PT2030, dotando assim as empresas do concelho de uma plataforma única, que as apoie no acesso aos fundos europeus, de que a economia Portuguesa irá beneficiar na próxima década?
A união faz a força.
Nota: Artigo publicado originalmente na edição 1 do Jornal de Guimarães em Revista, em abril 2021.