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Guimarães
03 dezembro 2024
tempo
18˚C
Nuvens dispersas
Min: 17
Max: 19
20,376 km/h

Janeiro

Simone Oliveira
Política \ quarta-feira, janeiro 11, 2023
© Direitos reservados
As grandes mudanças interiores não se compadecem com doze badaladas escutadas ao longe na torre da igreja.

Entramos em janeiro como um náufrago que finalmente alcança terra firme. Atordoados. Cansados. Gratos. Expectantes. Dali para a frente, dizem-nos e queremos ingenuamente acreditar, abre-se um imenso areal de possibilidades e basta-nos levantar e caminhar. O mar aberto ficará para trás e depois… naturalmente cumprindo os desígnios de cúmplices deuses, tudo acontecerá. Abençoado mundo novo.

Ano após ano, nesse limbo de esperança e ainda assim, bastam meia dúzia de dias e tropeçamos.

Voltemos então à praia que se abre no primeiro dia do ano, com vontade, mas sem certezas e nessa contínua, mas sempre inesperada linha de costa, risquemos com humildade a rota do caminho que vem: menos sal e mais sol. Menos coisas e mais tempo com os nossos. Menos ecrãs e mais pele. Menos a opinião dos outros e mais a nossa vontade.

Certos, porém, que se de nós muito dependerá, não deixaremos nunca de ser um grão de areia na engrenagem do mundo.

As grandes mudanças interiores não se compadecem com doze badaladas escutadas ao longe na torre da igreja. Acontecem lentamente, ao ritmo do medo, da euforia, das perdas, das vitórias, ao ritmo do cabelo que cresce. Devagar, portanto.

A estranha beleza? Se tivermos sorte, daqui a exatamente um ano, voltaremos à praia do nosso encantamento e haverá ali um breve momento em que voltaremos a acreditar.

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