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O estado social de uma sociedade ideológica

Diogo Nuno Mesquita
Opinião \ quinta-feira, junho 20, 2024
© Direitos reservados
É tempo de compreender que a questão não é sobre capitalismo, nem comunismo… É egoísmo.

A esquerda e a direita foram ambas passear, mas esqueceram-se do propósito que as devia mover. Até falam dele – as pessoas – mas nunca o conseguem respeitar o suficiente para não se aproveitarem de cada mísera oportunidade para o manipular com o objetivo da angariação de votos. Esqueceram há muito tempo que falam para as pessoas, e não para o eleitorado. E enquanto não se lembrarem que não somos números nem gostamos de ser tratados como imbecis, apesar de muitas vezes o sermos, o extremismo vai crescer e o radicalismo vai-se reforçar com consequências graves para a sociedade, talvez irreversíveis.

A comunidade política está com a cabeça demasiado enfiada na areia para conseguir ver o que quer que seja para lá do sectarismo nas suas ideias e da negação de quaisquer que sejam as ideias dos seus adversários. E isso é o princípio do fim de qualquer sistema político – a cegueira ideológica que mata mais do que qualquer outro monstro no mundo. É este que cria as divergências irredutíveis, os ódios e as guerras. Assim se evidenciam as minorias e as diferenças que antes eram irrelevantes, tornam-se sanguinárias e hediondas.

É tempo de compreender que a questão não é sobre capitalismo, nem comunismo… É egoísmo.

É esta a nossa natureza, e Adam Smith, pai da economia, sugeriu-o claramente quando nos ensinou o que era a mão invisível do mercado. Mostrou-nos que um mercado livre só prospera devido ao incentivo da nossa essência individualista, que nos leva a fornecer à sociedade o que esta precisa, não por querermos o melhor da mesma, mas por querermos o nosso melhor, e assim prosperar. É essa perseguição competitiva dos nossos interesses, enquanto indivíduos, que permite o desenvolvimento e progresso de uma sociedade baseada num mercado livre. E não devemos desdenhar a nossa essência.

Devemos aproveitá-la em benefício da humanidade e do progresso da civilização; mas fazê-lo lutando por um mundo o mais justo possível para todos – com oportunidades, dignidade, segurança e harmonia. Devemos cuidar uns dos outros, mesmo aproveitando o egoísmo da nossa natureza para evoluir. E isso é política – essa batalha por um (des)equilíbrio político-social que se ajuste ao sentido de justiça de um indivíduo, partido ou ideologia, contrário ao de outros. O que esse sentido define é a flexibilidade de cada um relativamente à proporção de liberdade que deve existir nesse mercado que inevitavelmente condiciona a força do estado social que deve sustentar para garantir a dignidade de todos.

A partir daí começam os rótulos políticos, as esquerdas e as direitas, os extremistas radicais e os centristas moderados. Mas o essencial será sempre a raiz de todo o debate – a sociedade que queremos construir. A pluralidade apesar do egoísmo intrínseco. O otimizar do bem-estar social que permita o bem-estar individual (vice-versa) numa existência e convivência solidária que se baseie num estado social capaz de garantir um nível de vida mínimo que seja digno, com saúde, habitação, trabalho, inclusão e equidade.

Não é sobre esquerda nem direita política, mas cidadania e humanidade, bom senso em dose suficiente para compreender as condições e motivações dos outros seres humanos, nossos concidadãos.

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