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O "Hércules de Guimarães"

Gonçalo Cruz
Opinião \ quarta-feira, março 31, 2021
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Das poucas referências epigráficas romanas relativas ao semideus por estas bandas, uma delas apareceu em Guimarães, concretamente na R Dr Avelino Germano, bem no interior da cerca medieval vimaranense

Foi das personagens do panteão mais populares na antiga Roma. Héracles grego, Hércules romano, filho de Zeus/Júpiter, semideus e herói lendário, alegoria da força, da coragem e do triunfo, protagonista de vários episódios lendários, particularmente os seus famosos Doze Trabalhos. O culto a Hércules espalhou-se com a expansão territorial do Império Romano, acompanhando os legionários que nele se inspiravam e os comandantes, que a Hércules dedicavam os seus monumentos em caso de vitória. Desaparecido o culto a Hércules com o advento do Cristianismo, manteve-se a memória desta antiga entidade mítica, que depois alimentou as artes praticamente até aos dias de hoje.

Isto dito, que relação tem Hércules com Guimarães? Curiosamente, das poucas referências epigráficas romanas relativas ao semideus por estas bandas, uma delas apareceu em Guimarães, concretamente na Rua Dr. Avelino Germano, bem no interior da cerca medieval vimaranense. É um fragmento de granito, que tanta pancada terá levado pelos séculos fora, que está partido em todos os lados, sendo praticamente impossível reconstituir a sua volumetria original. Acresce o facto infeliz de a superfície onde se consegue ler o que se conserva da inscrição, estar rasurada por linhas feitas posteriormente, talvez como resultado de qualquer reutilização. As letras que restam estão extremamente desgastadas, pelo que, pese embora a relevância deste testemunho, dele não poderemos retirar grande informação. Em duas linhas, conseguem ler-se os fragmentos de palavras "entivs" e "ivs", no que seria a identificação do dedicante, e a palavra "Herc" que identifica a entidade dedicatária.

Inscrição latina com dedicação a Hércules, recolhida em Guimarães

A inscrição deve ter estado visível durante muito tempo, pois que é referida por Jerónimo Contador de Argote, no século XVIII, como estando integrada no pavimento interior de uma casa, talvez se explicando desta forma o desgaste das letras. Mais tarde, no final do século XIX, o arqueólogo Albano Belino identifica novamente a inscrição, no número 122 do que então se chamava Rua de São Paio. O proprietário da casa, Albano Pires de Sousa, ofereceu o fragmento à Sociedade Martins Sarmento, no ano de 1889.

O Abade de Tagilde referiu, em 1901, que a peça poderia ter sido uma ara. Porém, o que se conserva deste elemento sugere algo muito maior, como uma lápide. Mais recentemente, Armando Redentor (2011) colocou a hipótese de se tratar de um pedestal, o que é bem provável.

Que faria esta peça no núcleo medieval de Guimarães, sendo atribuída a um período muito anterior? Foi recolhida por alguém nas redondezas e trazida para a cidade? Ou é um elemento originário deste local, testemunhando assim a ocupação romana da área onde se erigiu o núcleo medieval? Uma coisa é certa, não é caso único, no centro de Guimarães. Fragmentos da ocupação pré-Mumadona, que surgem aqui e ali.

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