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O poder local

Gonçalo Cruz
Opinião \ terça-feira, setembro 14, 2021
© Direitos reservados
Foi em Guimarães que se fez o achado feliz do vestígio raro e único de um espaço associado ao exercício do poder civil, anterior à nacionalidade e anterior mesmo à romanização.

É em períodos de campanha autárquica que as dinâmicas políticas locais mais se sentem. E se este processo democrático se nota, "à porta dos cidadãos", desde o 25 de Abril, facto é que, no nosso país, sempre existiram estruturas de governo local. Mais oligárquicas, em tempos, refletindo mais a estrutura dos órgãos nacionais, nos dias de hoje. Mudaram também as prerrogativas, responsabilidades e objetivos das estruturas de governo local.

Se fontes documentais, mais ou menos abundantes, podem atestar o funcionamento das Câmaras nos concelhos anteriores ao liberalismo, os espaços e os edifícios associados ao exercício do poder local, são coisa que tende a cair no olvido e a desaparecer. Um velho pelourinho aqui, a antiga "casa da câmara" ali, se falarmos da Idade Moderna ou da Idade Média. Antes disso, temos um quase desconhecido.

Foi em Guimarães que se fez o achado feliz do vestígio raro e único de um espaço associado ao exercício do poder civil, anterior à nacionalidade e anterior mesmo à romanização. A "casa do conselho" da Citânia de Briteiros é, talvez, dos mais antigos exemplos de um edifício parlamentar na Europa Ocidental. É, aliás, graças a esta construção em ruínas que se supõe que os castros, pelo menos os maiores, possuíam tal centro de poder.

Provavelmente posterior ao Prytaneion de Olímpia, mas quiçá anterior à "Cúria de Pompeu", em Roma, esta grande "casa castreja" parece partilhar antigos cenários com estes carismáticos monumentos arqueológicos. Acontecimentos cívicos, cerimónias, debates, discussões – quiçá lutas literais – e comida, muita comida... Esta não deveria abundar na cúria romana, mas pelos vistos no Prytaneion todavia se faziam festins, que o hábito se foi perdendo, realizando os magnatas romanos os banquetes nas suas próprias casas. Isto de banquete coletivo num espaço comum era uma coisa um tanto ou quanto "bárbara".

Mencionámos "posterior" ou "anterior" porque não temos uma ideia concreta da cronologia de construção desta casa, dada a ausência de trabalhos arqueológicos recentes neste espaço. Mas é uma ideia que nos motiva, naturalmente. Algo nos diz que a nossa mais antiga "casa da câmara" ainda nos reserva algumas surpresas.

 

A "casa do conselho" na acrópole da Citânia de Briteiros

A "casa do conselho" na acrópole da Citânia de Briteiros

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