Em busca do Prego…
Chove lá fora com intensidade, nunca tinha visto chover assim no Rio de Janeiro, onde voltei em trabalho, visito para petiscar o afamado Jobi, um boteco a receber clientes desde 1956, em pleno coração do Leblon, e paragem obrigatória quando visito a "cidade maravilhosa".
Adoro este lugar cheio de vida, ponto de referência da boémia carioca, sempre cheio de gente bonita e divertida; adoro sentar-me numa mesa da esplanada, beber um chope bem geladinho e degustar uns petiscos que nos fazem água na boca. Com uma cozinha misto de uma culinária luso-brasileira, este local é famoso pelos seus bolinhos de bacalhau (não estão nada mal, recomendam-se); quem nunca foi ao Jobi, não conhece bem o Rio, dizem os cariocas, e com alguma razão.
Desta vez e olhando as pessoas que passam na rua a correr, admiradas com a quantidade de água que caia do céu, resolvi seguir a sugestão do simpático empregado que me atendeu e pedir um filé com queijo, uma sanduíche em tudo parecida com o nosso prego no pão.
Confesso que a dita sanduíche estava boa, a carne era tenra e saborosa, com um queijo de minas meio derretido, a fazer a fronteira entre a carne e o pão, tudo como manda a receita, somente um senão: não era um verdadeiro prego no pão, como nós portugueses gostamos de comer. Esse só se come em terras lusas.
A nossa sanduíche mais típica foi criada por Manuel Dias Prego na sua taberna, a Taberna do Prego, na Praia das Maçãs no final do século XIX. O vocábulo entrou na gastronomia portuguesa no princípio do século XX, em memória ao seu criador, começando o Prego no pão a fazer parte das ementas das tabernas e cervejarias de todo o país.
E de repente, embalado por um samba carioca que se ouvia de fundo, eis que dou por mim a elaborar um roteiro mental de locais em Guimarães, onde recordo ter comido um bom prego no pão com os requisitos dignos desta sandes: carne tenra, bem condimentada, com ou sem queijo, e um bom pão.
O primeiro local onde o meu roteiro parou foi a Vimawines, onde o prego com queijo é uma delícia e sempre com a carne tenra. Segui pela a tasquinha do Tio Júlio, um dos melhores Pregos no pão que se come na cidade berço, sempre bem confecionado e saboroso. Passei ainda pela Pregaria de Guimarães, onde o Prego não engana, nem desilude, faz jus ao nome da casa; subi a rua e parei na Cervejaria Martins, um bom e honesto Prego no pão; comer ao balcão sabe ainda melhor. Acabei num espaço novo o Tás c´Pio, onde se come um prego no pão sempre tenro, num ambiente de tasca na Penha, com um pôr do sol de cortar a respiração.
Depois desta viagem mental por terras vimaranenses, regressei ao Jobi, continuei a saborear o meu filé; pedi mais um chope, olhei em volta e sorri, pois, por dentro, vou “meter o dente” num verdadeiro prego no pão temperado e tenrinho.
Como escreveu Moliére: "Bem comido, a minha alma de nada quer saber. E nem os desgostos a conseguem comover".