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Os professores precisam que os valorizem e respeitem

Simone Oliveira
Opinião \ domingo, janeiro 29, 2023
© Direitos reservados
Há muito tempo que quem trabalha nas escolas murmurava. Finalmente, ousamos gritar e a onda cresceu e está a lavar as ruas.

Há muito tempo que quem trabalha nas escolas, sentia em vagas contínuas a acidez das ondas que nos banhava os dias. Murmúrios de revolta e de descontentamento, afogamentos diários de muitos que, não resistindo, se entregavam à silenciosa doença da apatia e do alheamento. Outros, esbracejavam no meio de um oceano de burocracia, de medidas desconexas e infrutíferas lançadas avulso. Lá longe, a afastarem-se cada vez mais, em partidas sucessivas, os que verdadeiramente a todos deveriam importar e que ainda tanto nos importam: os alunos.

Há muito tempo que quem trabalha nas escolas murmurava. Finalmente, ousamos gritar e a onda cresceu e está a lavar as ruas.

Os professores não precisam de empatia ou de pena, precisam que os valorizem, que os respeitem e que lhes devolvam o que é seu, e nisso cabe o tanto que lhes tiraram. Não somos coitados, mas somos vítimas, de sucessivos governos, de medidas desgovernadas, de uma sociedade que se tem vindo a construir alicerçada em muitos direitos e poucos deveres. Se cada cidadão tiver a coragem de olhar a condição do outro com honestidade, de ler pelo que se luta, de querer escutar e saber o que se perdeu e o que se ganhou, evitará muitos comentários que nos deveriam envergonhar a todos enquanto sociedade.

O conhecimento só consegue atingir o outro com a força que perdura, se for transmitido com paixão e com amor. E ambos os sentimentos, sabemos, desaparecem perante o destrate contínuo.

Aos pais que estão preocupados com “as férias” dos professores, com a “preguiça” dos professores, com a “desconsideração” dos professores pelos seus filhos nestas semanas de luta, sentem-se, num destes dias, à mesa com eles. Sentem-se com os vossos filhos.

Peçam-lhes que leiam um texto. Espantar-se-ão. Muitos não sabem realmente ler e já andam na escola há mais de 9 anos…
Façam-lhes um ditado. Contem os erros que os vossos filhos dão…
Vejam um noticiário e peçam-lhes uma opinião. Peçam que a sustentem. Que argumentem.
Interroguem-se: será que os professores que vos souberam ensinar deixaram de o saber fazer com os vossos filhos?
Por estes dias, as razões já foram apontadas e repetidas. Neste momento só não sabe a resposta quem não quer saber.

Os professores são vítimas, mas não somos as únicas, ao nosso lado caem por terra todos os dias tantos alunos. E se nós já sabemos andar, ainda que trôpegos muitas vezes, muitos dos vossos filhos não irão, sequer, conseguir levantar-se.

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