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Palácio de Vila Flor: uma encomenda de um homem singular (parte 1)

Francisco Brito
Opinião \ sexta-feira, julho 22, 2022
© Direitos reservados
Com vida dividida entre Lisboa e Guimarães, Tadeu Luiz replica o que se fazia na Corte na sua terra natal. É, neste contexto. que, em 1724, funda a Academia Vimaranense, que reúne por diversas vezes.

Tadeu Luíz António Lopes de Carvalho da Fonseca e Camões, nasceu em Guimarães a 9 de Março de 1692, filho de Gonçalo Lopes de Carvalho e Camões (Fidalgo da Casa Real, Senhor dos Coutos de Abadim e Negrelos) e de Dona Guiomar Bernarda de Alarcão e Silva, descendente ilustres famílias minhotas.


Sabemos pouco sobre a infância e juventude de Tadeu Luiz. É conhecida a sua morada, a Casa dos Carvalhos (ou Mota-Prego), situada no largo da Misericórdia em Guimarães, bem como a sua pertença a diversas irmandades e confrarias vimaranenses. Um ano após o seu nascimento morre o seu pai, ficando por isso Tadeu Luiz, filho primogénito e morgado, a deter o senhorio dos Coutos de Abadim e Negrelos, bem como de diversas Casas e Solares em várias zonas do norte do país e o Morgado da Camoeira, em Évora.
Tadeu Luiz nasceu também num meio cultural privilegiado. Na sua árvore genealógica podemos encontrar nomes como os do Doutor Gonçalo Dias de Carvalho, homem cultivado (autor da “Carta Dirigida a El Rei D. Sebastião” publicada em 1557) e diversos homens ligados às letras e a cargos jurídicos e diplomáticos da maior importância. O pai de Tadeu Luiz, Gonçalo Lopes de Carvalho da Fonseca e Camões, foi homem culto e curioso que se dedicou ao estudo da história da sua família, tendo escrito uma obra hoje desaparecida intitulada “Árvores Genealógicas compreendendo as famílias dos Senhores de Abadim com as Armas e Brasões Iluminados”. Terá o nosso biografado Tadeu Luiz António herdado esta veia cultural de seus maiores? Tudo indica que sim.


Sabemos que ainda jovem partiu para Lisboa, onde terá frequentado a corte.. Em Lisboa, conheceu diversos tipos de pessoas e frequentou os meios culturais daquela cidade. Ao que parece em 1720 vivia em Lisboa em casa de “um Tadeu Luiz António” o Reverendo Francisco Fioravanti, que dava explicações de italiano, corografia e filosofia experimental e com quem o jovem Tadeu terá certamente aprendido alguma coisa…


É também em Lisboa que, em 1720, Tadeu Luiz Lopes de Carvalho e Camões casa com Brites Teresa de Menezes (deste matrimónio nasce um filho, que morreu no parto e que provavelmente provocou a morte da sua mãe). Cinco anos depois volta a casar novamente, desta feita em Ponte de Lima, com D. Francisca Rosa de Menezes, com quem teve seis filhos. Aos filhos legítimos juntam-se, pelo menos, três filhos naturais, havidos em mulheres solteiras que Tadeu reconheceu e apoiou (sem contudo os legitimar).


Em Lisboa, Tadeu Luiz travou conhecimento e amizade com o 4º Conde da Ericeira, uma das figuras mais notáveis da cultura portuguesa do seu tempo. Possivelmente, foi através das amizades e conhecimentos travados nas sessões académicas no Palácio da Anunciada (do Conde da Ericeira) que o levaram a ser admitido como Sócio Correspondente da Real Academia Portuguesa de História e que, em 1744, estiveram na origem do convite para entrar na Academia Dell’Arcadia em Roma, ocupando nesta Academia o lugar do Conde da Ericeira, que havia morrido no ano anterior (tive ocasião de confirmar esta informação há uns anos junto de responsáveis da Biblioteca Angelica, hoje detentora dos arquivos da Arcadia). Por essa altura, a Academia dos Infecundos de Roma nomeia Tadeu Luiz seu Secretário (conforme se pode ler na Gazeta de Lisboa de 1 de Dezembro de 1744).


Com uma vida dividida entre Lisboa e Guimarães, Tadeu Luiz decide replicar o que se fazia na Corte na sua terra natal. É neste contexto que em 1724 funda a Academia Vimaranense, que reúne por diversas vezes (algumas das sessões desta Academia foram depois publicadas na obra “Guimarães Agradecido”, impressa em 2 volumes em 1747 e 1749). Em 1728 promove sumptuosas festas na sua casa, estendendo-as ao Terreiro da Misericórdia, que manda iluminar com tochas, decorando-o com bosques artificiais (que no seu interior tinham fontes de onde brotava “excelente vinho”), fazendo rebentar fogo preso e de artifício e distribuindo comida pelos presentes. Nessas festividades, apresentou-se de uma forma esplendorosa, sendo a sua indumentária descrita do seguinte modo: trajava “uma casaca escarlate bordada a ouro (…) usava a Venera da Ordem de Cristo de ouro e guarnecida de preciosos diamantes e da mesma matéria e guarnição [diamantes] eram a fivela, botão e presilha do chapéu, copo e guarda do espadim, e fivelas dos sapatos…”. Em 1734 encontrava-se novamente em Lisboa e anunciou à Real Academia de História que tinha “quase acabada” uma obra intitulada “Memorias da Villa de Guimarães”, dividida em oito partes (a obra nunca chegou a ser publicada e o manuscrito encontra-se hoje perdido). Na década de 40 está de novo em Guimarães e recebe com pompa e circunstância D. José de Bragança, Arcebispo de Braga, que havia decido fixar residência na Vila e por esses anos, promove novas festividades e sessões académicas.

Apesar de uma vida preenchida e faustosa, marcada pela sua actividade nas Academias Literárias e pela sumptuosidade das suas festas, Tadeu Luiz não se dá por satisfeito e decide dar início aquele que seria o maior projecto da sua vida: a construção do Palácio de Vila Flor.
(continua)

 

Nota: Este artigo não pretende ser uma investigação histórica. É apenas uma recolha e junção de elementos (em grande parte tratados e publicados por D. Maria Adelaide Pereira de Moraes “Palácio de Vila Flor”). Não posso deixar de agradecer ao Nuno Saavedra, ao Raul Pereira e ao Ricardo Rodrigues pela ajuda prestada para a elaboração deste artigo.


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