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Pequenos mas honrados

Carlos Rui Abreu
Opinião \ sábado, março 18, 2023
© Direitos reservados
A expressão que dá título a esta crónica é usada amiudadas vezes e, nos últimos dias, veio-me ao pensamento a propósito de mais um caso de racismo no desporto nacional.

Recentemente, num jogo da fase de subida do campeonato nacional da 2.ª divisão de futsal masculino, realizado em Fafe, entre o Nun’Álvares e o Torreense, um adepto do clube local chamou preto a um atleta adversário e imitou um macaco. O Torreense queixou-se, com todo o propósito e como seria de esperar, mas o que mais ressalvo neste episódio foi a atitude do Nun’Álvares. Os responsáveis do clube fafense vieram a público confirmar o sucedido, lamentar e repudiar mas, acima de tudo, informar que o adepto em causa estava já identificado e que tinha sido apresentada, pelo próprio clube, uma queixa na GNR.

Trata-se de um sócio, alguém muito presente na vida do clube, facto que não impediu os dirigentes de atuarem de forma decidida e firme. Um ato que trouxe e trará ainda mais dissabores ao Nun’Álvares - estão ainda por apurar os castigos que serão impostos – mas que demonstra que é preciso saber estar no desporto.

Os clubes não conseguem controlar as massas que, a soldo da emoção da competição, vão tendo aqui e ali comportamentos nefastos à sã convivência desportiva e à mais salutar coexistência em sociedade mas conseguem controlar os efeitos desses mesmos comportamentos.

O Nun’Álvares, um pequeno mas honrado clube no panorama desportivo nacional, soube tratar com assertividade esta questão, sem meter a cabeça na areia, sem bodes expiatórios, sem atirar a culpa para terceiros.

Ao invés, o que temos assistido em situações idênticas noutros patamares é um passar de culpas, o não assumir, não se atuar com quem prevarica, recursos judiciais uns atrás dos outros para que os castigos sejam revogados. Ser grande é também assumir a responsabilidade, ter a honradez de pedir desculpa e zelar para que este tipo de casos não volte a acontecer. Quando se encobre e aligeira está a propiciar-se a continuidade dos atos criminosos.

Acredito que este caso vai estar sempre no inconsciente dos adeptos do Nun’Álvares quando entrarem naquele pavilhão e ousarem este tipo de linguagem.

Que os grandes, em dimensão, possam aprender com estes pequenos mas honrados.

PS: Sou sócio do Nun’Álvares e, por isso, o orgulho que sinto neste particular é ainda maior.

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