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Por uma Ucrânia livre e independente!

Francisco Brito
Opinião \ segunda-feira, março 07, 2022
© Direitos reservados
A História desmente Putin. A língua ucraniana (que a Rússia sempre tentou reduzir a um dialeto) era, já no século XVIII, uma questão importante para os ucranianos.

Em Julho de 2021, na página do Kremlin, Putin publicou um pequeno ensaio onde procurou demonstrar que a Rússia e a Ucrânia eram duas nações condenadas a ficar unidas por um passado comum. Para fundamentar a sua teoria, o autocrata russo desvalorizou e omitiu grande parte dos aspetos que contribuem para a história da Ucrânia como nação independente e da luta (histórica) do povo ucraniano pela sua independência e liberdade.

A estratégia não é nova. Destruir ou diminuir os aspectos identitários de um determinado povo (língua, religião, arte, prácticas culturais, etc) sempre foi um caminho para a sua destruição. Não faltam exemplos na Antiguidade de povos que pura e simplesmente desapareceram ou foram integrados em novos reinos, impérios ou noutras formas de organização social. Num passado mais recente esta estratégia foi usada pelas potências coloniais europeias em África, sendo um dos casos mais paradigmáticos o da negação da verdadeira história do Grande Zimbabwe (um enorme complexo fortificado construído na Idade Média por africanos e cuja autoria foi ocultada durante décadas pelas autoridades coloniais). Na Europa de Leste, a narrativa de Engels sobre os “povos sem história” (que incluía a Ucrânia) serviu de chapéu para os desmandos da União Soviética naquela região.

A teoria que Putin hoje segue tem por base este princípio da negação da cultura e da identidade dos povos como forma de os destruir ou enfraquecer.  E uma aceitação destes pressupostos poderia ser fundamental para facilitar uma anexação da Ucrânia por parte da Rússia. Contudo a História desmente Putin. A língua ucraniana (que a Rússia sempre tentou reduzir a um dialeto) era, já no século XVIII, uma questão importante para os ucranianos (que se ressentiam da interferência dos russos na imposição da língua). E se é verdade que a Ucrânia (ou parte do seu território) esteve durante vários séculos integrada no Grão-Ducado da Lituânia ou na Rússia (tendo russos e ucranianos algumas origens comuns no principado de Kiev), é também um facto que a Ucrânia manteve durante muitos séculos a sua própria nobreza (sendo que alguns dos seus príncipes descendiam dos antigos reis de Kiev), aspirações relativas à sua independência (anuladas pelos países que a dominaram) e um sentimento patriótico que nunca desapareceu e que, ao longo dos tempos, foi recrudescendo e conhecendo diversas formas.

Tratados como cidadãos de segunda pelos países vizinhos e alvo das maiores atrocidades por parte dos russos (das quais se destaca o Holodomor, a “grande fome” provocada por Estaline em 1932-33), os ucranianos procuraram sempre responder e lutar pela sua independência (quer com partidos extremistas, como a OUN, ou com grandes partidos nacionais como o UNDO).

Com a sua narrativa histórica Putin tentou enfraquecer a Ucrânia, mas falhou. No momento em que escrevo estas linhas o povo ucraniano está a escrever a sua História, respondendo à bárbara invasão russa com uma resistência épica que – assim o espero! – irá marcar o início de uma Ucrânia livre e independente.

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