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Quando o Castelo de Guimarães não foi demolido por…15 votos.

Francisco Brito
Opinião \ sábado, fevereiro 05, 2022
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Foi proposta a demolição de uma torre do Castelo de Guimarães. A ideia de aproveitar as pedras do castelo não era nova e já antes havia sido pedida (e recusada) a sua demolição.

No passado dia 31 de Janeiro comemorou-se mais um aniversário da célebre sessão de 31.01.1836 da Sociedade Patriótica Vimaranense (SPV), onde, com o intuito de calcetar as ruas, foi proposta a demolição de uma torre do Castelo de Guimarães. A ideia de aproveitar as pedras do castelo não era nova e já antes havia sido pedida (e recusada) a sua demolição. A particularidade dessa sessão da SPV foi a de ter servido para a construção de um mito que ainda hoje perdura: um dia o Castelo de Guimarães não foi demolido por um voto!

A verdade é que os votos a favor da demolição foram apenas 4 e contra foram 15!. Para que não restem dúvidas sobre esta matéria partilho o resultado da votação. Votaram contra: Barroso, Souto, Basto, Ferreira Guimarães, Sampaio, Freitas Guimarães, Vigário de Creixomil, Leite de Castro, Vigário‐geral, Arcediago, Lima, Vieira, Maia, Sá e Bandeira. Votaram a favor: Costa, Castro, Barão de Vila Pouca e José Correia.

É ainda de notar que nesta votação foi referida a importância histórica do Castelo de Guimarães e dos “monumentos antigos”, o que demonstra haver na SPV uma maioria de homens cultivados e esclarecidos. E convirá também contextualizar o momento histórico que se vivia para perceber as razões que levaram a proposta fosse equacionada.

Apesar de já ter sido desmentida diversas vezes, ainda hoje continua a circular em certos órgãos de comunicação social e nas redes sociais a ideia do tal voto único e providencial que salvou o Castelo! E, no meio da mentira, da historieta e da caricatura, poucos são os que perguntam: afinal o que foi a SPV?
A Sociedade Patriótica Vimaranense foi uma das diversas “sociedades patrióticas” que entre 1820 e 1842 surgiram em Portugal. Eram agremiações influenciadas pela maçonaria, de índole liberal, onde, tanto quanto se sabe, eram por regra defendidas ideias consideradas liberais e progressistas.

A SPV foi constituída por mais de 100 vimaranenses recrutados na elite local (proprietários, membros do clero, advogados, notários, comerciantes, titulares, médicos, etc). Dividiu-se em algumas comissões especializadas (“comércio”, “agricultura”, “instrução”, “salubridade”, entre outras) de onde saíram ideias bastante inovadoras para a época. Na SPV foi discutido um plano de vacinação para a população de Guimarães, um sistema de transporte de doentes das aldeias para os hospitais, foram tratados assuntos relativos à liberdade de imprensa, à educação, ao comércio e foi até discutida a criação de um Teatro Nacional em Guimarães.

Muitos dos elementos que fizeram parte da SPV estiveram, anos mais tarde, ligados à política (local e nacional), à imprensa e às associações de Guimarães. Se um dia alguém quiser fazer a genealogia do associativismo contemporâneo vimaranense é possível que, sem grande surpresa, descubra que o tronco comum dessa frondosa árvore foi a Sociedade Patriótica Vimaranense.

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