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Racismo

Pedro Carvalho
Opinião \ terça-feira, abril 22, 2025
© Direitos reservados
Combater o racismo no futebol é lutar por um desporto mais justo, inclusivo e digno. É lutar pela dignidade humana ou contribuir para ela.

O futebol é, por excelência, um palco de união entre culturas e povos. Contudo, continua a ser palco de episódios lamentáveis de racismo – um problema estrutural que se manifesta tanto nas bancadas como dentro das quatro linhas. E importa sublinhar: o racismo não ocorre apenas de brancos contra negros, nem de negros contra brancos, não é de sentido único e existe entre todas as raças e etnias, e inclusivamente entre pessoas da mesma raça, mas de grupo étnico ou religioso distinto. É um problema humano, complexo, e que exige uma resposta coletiva e firme.

São vários os exemplos que nos chegam, época após época: jogadores insultados por adeptos, comentários discriminatórios nas redes sociais, e um silêncio muitas vezes constrangedor por parte de dirigentes e entidades públicas (com exceção no “caso Marega” que muitos falaram e uma grande maioria com pouco acerto e menor propriedade), como vimos recentemente no jogo entre o Boavista Futebol Clube e o Vitória Sport Clube, em que o principal visado foi o Bruno Varela. Tudo isto revela uma cultura de tolerância para com o preconceito, frequentemente disfarçada sob a desculpa da "paixão pelo jogo" ou de "momentos de exaltação". Ainda recentemente ouvi uma desculpa dessas, quando chamei a atenção a um jovem e aos seus pais, no jogo no D. Afonso Henriques, para a Liga Conferência, entre o Vitória e o Real Bétis, quando o jovem em causa e perante os festejos do Bakambu após ter marcado o segundo golo, vociferou para este, “sai daí preto do caralho”.  

Não chega aplicar sanções simbólicas. Mensagens genéricas como “Diz não ao racismo” nos ecrãs dos estádios ou em tarjas são importantes, mas claramente insuficientes. O que o futebol precisa é de uma pedagogia antirracista ativa, constante e abrangente, que envolva adeptos, dirigentes, jogadores e instituições, para além de famílias e escolas.

No caso dos adeptos, é fundamental apostar em iniciativas educativas, dentro e fora dos recintos desportivos — ações de sensibilização, tertúlias e visitas a escolas, partilha de testemunhos reais e campanhas com impacto. Mudar mentalidades é um processo que exige proximidade e persistência e pode demorar gerações.

Ao nível dos dirigentes dos Clubes, da Liga de Clubes e da Federação Portuguesa de Futebol (e de Federações de outras modalidade porque o racismo não se circunscreve ao futebol e muito menos se cinge ao Desporto, mas aqui neste texto apenas abordo o racismo no futebol), a responsabilidade é estrutural. É urgente implementar políticas claras de combate ao racismo, formar continuamente os quadros e garantir representatividade nos órgãos de decisão. O exemplo deve vir de cima.

Quanto aos jogadores, figuras com enorme influência social, é essencial prepará-los para assumirem um papel ativo nesta luta. Desde as camadas jovens, devem ter acesso a formação sobre questões sociais, apoio psicológico e liberdade para se exprimirem sem receios.

A comunicação social desportiva também tem um papel fundamental: deve abordar estas questões com seriedade, responsabilidade e profundidade, evitando o sensacionalismo e ajudando a educar o público.

Combater o racismo no futebol é lutar por um desporto mais justo, inclusivo e digno. É lutar pela dignidade humana ou contribuir para ela. Não se trata apenas de proteger os atletas, os espetadores ou agentes desportivos. Trata-se de proteger acima de tudo o ser Humano, e ao fazê-lo proteger o espírito do jogo – respeito, igualdade e partilha – e a todos aqueles que nele intervêm. O verdadeiro espetáculo, o verdadeiro jogo de futebol, e o verdadeiro palco de união entre culturas e povos, só ocorre quando todos têm espaço para jogar com liberdade e humanidade, independentemente das suas origens, raça ou credo.

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