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Sem projeto, sem rumo

Pedro Carvalho
Opinião \ quarta-feira, setembro 20, 2023
© Direitos reservados
Cortes cegos, despedimentos de profissionais qualificados que foram substituídos por profissionais sem qualificações ou com reduzida experiência (na maioria dos casos).

Escrevo esta crónica na sequência de uma nova derrota que compromete a época do Vitória SC. Refiro-me à derrota que nos eliminou da Taça da Liga (e não a mais recente com o Portimonense). Contudo não irei discorrer sobre a mesma, porque apesar de não ser episódica e fruto de alguma infelicidade pontual, essa derrota representa apenas a árvore, e eu quero aqui escrever sobre a floresta.

O problema do Vitória não é, no que ao clube diz respeito e ao futebol profissional em particular, esta concreta eliminação de uma competição na qual tinha (ou devia ter) legitimas aspirações a vencer, ou pelo menos a atingir a fase final da mesma.  O problema é estrutural e de base, é a falta de um projeto e de um rumo bem definido, é a falta de planeamento e de organização, é a falta de pensamento estratégico e de capacidade crítica de quem dirige os seus destinos. O problema é o amadorismo gritante da nossa Direção e de vários dos profissionais que a mesma contratou, sem experiência e sem qualificações e conhecimentos bastantes para os cargos que ocupam. 

Esta Direção desde o início do seu mandato, revelou não ter soluções financeiras – apesar de ter garantido aos sócios que as tinha –, nem ter um plano para equilibrar as contas do clube, sem deixar de simultaneamente continuar a investir e apostar na formação, na profissionalização dos seus quadros e na melhoria das infraestruturas do clube. Limitou-se desde o primeiro dia a uma gestão de merceeiro, com cortes cegos, despedimentos de profissionais qualificados que foram substituídos por profissionais sem qualificações ou com reduzida experiência (na maioria dos casos), ou então, em alternativa, passou a contratar fora serviços (em regime de outsourcing). Definiu tetos salarias irrealistas que desde cedo, apesar do apregoado, não respeitou. Os treinadores sucederam-se quer na Equipa A, quer na equipa B, tal como na formação. As obras do mini-estádio pararam sem que até à presente data fossem retomadas. Nenhum investimento em infraestruturas foi feito, a não ser obras pontuais e a substituição de um relvado que já anteriormente estava contratualizado e que não representou neste exercício qualquer custo.

De resto, e como fio condutor do discurso desde o inicio do mandato, esta Direção adotou o “discurso do Calimero”, queixando-se ad nauseam que tinha contas para pagar e que não tinha dinheiro, discurso que fez para o interior, como para o exterior,  dando azo a múltiplas notícias na imprensa nacional e local, que só fragilizaram ainda mais a nossa capacidade económica e desportiva, com reflexo e impacto claro nos valores dos jogadores cujos direitos económicos pretendia vender e ainda na capacidade de ir ao mercado financiar-se. A Direção inquestionavelmente encontrou dificuldades financeiras, facto do qual tinha conhecimento prévio, como todo o universo vitoriano tinha, e quando se candidatou, fê-lo com a promessa de ter soluções para esse quadro económico-financeiro. E é isso que compete a qualquer Direção, arranjar soluções e não enredar-se em queixas e queixumes. Foi para isso que foi eleita. Como qualquer outra Direção o será no futuro e o foi no passado.

Acontece que esta Direção não tem soluções e, por não as ter, forçou um casamento com a V. Sports SCS, num processo que é no mínimo Kafkiano, sem proteger os interesses do clube, celebrando um acordo parassocial com a V Sports SCS, que só assegura os direitos e interesses daquela sociedade. Acordo esse celebrado por 30 anos, e em que inclusivamente esta Direção aceita que o ali clausulado prevaleça sobre os Estatutos do Vitória SC – Futebol SAD (facto que a maioria dos sócios desconhece), abdicando da independência e controle da gestão do clube, a troco de apenas 5 milhões de euros e de um donativo de 1 milhão para infraestruturas, que nem sequer o vamos receber, face as vicissitudes posteriores, que eram previsíveis face aos regulamentos da UEFA. Disso a Direção estava devidamente alertada mas, como vem sendo hábito, afirmou-se tranquila e ignorou a realidade e os avisos de muitos sócios, com as consequências conhecidas. António Miguel Cardoso após a implosão do negócio e a recompra forçada de parte das ações à V. Sports SCS, ainda teve o descaramento de, publicamente, em Assembleia Geral, afirmar que, ao contrario do por si preconizado diariamente desde o dia 14 de fevereiro de 2023, com este volte face a posição do Vitória SC saia reforçada com a recompra de parte das ações e com a recuperação do controle absoluto da gestão do clube, e a futura alteração dos estatutos revogando-se o inaceitável artigo 13º. Não que eu discorde que agora a posição do Vitória SC sai reforçada, porque sai de facto, face à perda da autonomia e independência que ocorria decorrente do referido acordo parassocial que precedeu aquela venda e que foi celebrado nas costas dos sócios, que em absoluto desconheciam o mesmo, porque se o conhecessem em nenhum momento, estou certo, aprovariam o negócio. Eu não aprovava.

António Miguel Cardoso frequentemente revela incoerência e é capaz de afirmar algo e o seu contrario com muita facilidade. Na realidade, faz jus à máxima de António Pimenta Machado, “o que hoje é verdade, amanhã é mentira”. António Miguel Cardoso revela falta de preparação, não aportou meios, nem recursos. Revela também um desconhecimento profundo do que é o futebol. Tem um discurso empático mas redundante.    

Os resultados deste retrato que traço estão à vista, não só em termos desportivos, como económicos. Basta que os sócios levantem os olhos da bola e que avaliem esta gestão. E se esta Direção não muda de paradigma, não define um rumo e projeta o futuro, não se rodeie dos melhores e mais qualificados, então com esta Direção o Vitória não tem futuro, perderá cada vez mais competitividade e o fosso para os clubes, que terminaram a época transata nos quatro primeiro lugares, será cada vez maior.

P.S. Ontem foi um dia triste, faleceu um grande homem e um grande treinador, Marinho Peres. Homem afável, inteligente, perspicaz e sempre com um sorriso nos lábios e muito humor. Endereço as mais sentidas condolências aos familiares e amigos de Marinho Peres.  

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