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Vindimas - um ano mais (mas tanto mais se pode fazer)

Nuno de Vieira e Brito
Opinião \ terça-feira, outubro 05, 2021
© Direitos reservados
Apesar da tendência de decréscimo e de abandono do espaço rural e da viticultura, Guimarães tem de ter orgulho dos seus produtores.

O mês de setembro é o mês das vindimas. Apesar das alterações climáticas, que também já se fazem sentir na agricultura, dos modos de produção que procuram castas e variedades mais precoces, iniciando a época da vindima em agosto, ou dos novos processos enológicos, que procuram novos nichos de mercado e adiam o processo de colheita, produzindo lotes tardios, setembro é o mês de colher uvas.

Longe vai o tempo dos bardos altos ou das ramadas em bordadura, que caracterizavam e enriqueciam a paisagem minhota. Riqueza etnográfica que finalizava no convívio e festa familiar, no momento da vindima. Pilar, outrora, de uma agricultura de minifúndio, em que a produtividade da “quinta” era medida em pipas, principalmente do tinto – vinhão –, a vitivinicultura sofreu, nos últimos tempos, uma profunda transformação, com a modernização da agricultura, a evolução do conhecimento em enologia e a redução do peso do setor primário na economia nacional.

Também em Guimarães esta transformação se verifica.  Focando-nos nas últimas duas décadas, a área dedicada (e registada) para a produção de uvas reduziu-se significativamente, de 1131,4 hectares (ha), em 2003, para 625,9 ha em 2020 (cerca de 45%). Traduz-se para 2020 uma produção de 2.084.070 litros (verde e regional Minho) de vinho, muito equivalente à produção de 2003, com 2.694.692 litros (verde e regional Minho).

Considerando uma análise regional, Guimarães é o nono concelho com maior área produtiva na região dos Vinhos Verdes, enquanto que, na transformação, surge como 12.º, denotando a necessidade de melhor valorizar a produção e fomentar a notoriedade do produto final. Ora, sendo o vinho verde um produto único, com Denominação Protegida, que caracteriza a região e se apresenta com um crescimento importante de exportação, também neste setor (à semelhança de outros pilares de economia local) muito existe por fazer.

Tem, ainda, esta reflexão uma importância para o planeamento territorial do município. Concordamos todos que a significativa área de vinha perdida não terá sido reconvertida, de forma relevante, noutras áreas de culturas agrícolas. Corresponderá, fundamentalmente, a pequenos e médios viticultores que abandonaram a sua atividade e o espaço rural, fruto da pressão urbana, do baixo rendimento produtivo, ou mesmo do reconhecido envelhecimento da população rural. Em contrapartida, a quase manutenção da produção de vinho denota uma grande industrialização neste setor do agroalimentar, com empresas inovadoras que investem e são responsáveis, também, por uma gestão de espaços rurais, tão relevantes ambientalmente para a qualidade de vida de todos os vimaranenses.

Pois, para reverter esta tendência de decréscimo e abandono do espaço rural e da viticultura, Guimarães tem de ter orgulho dos seus produtores. E orgulho significa politicas de promoção publicas municipais e de discriminação positiva em todo o canal de comercialização e, particularmente, da restauração. Promover a marca, conectar com cultura e arte, desenvolver enoturismo, implementar e apoiar campanhas de consumo de produtos locais são estratégias que outros concelhos e regiões já iniciaram, com reconhecido sucesso. Poderá inovar-se mais, com mais imaginação, mas, fundamentalmente, necessita-se de menos inércia e mais dedicação aos resistentes e resilientes agricultores de Guimarães.

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