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As pontes que Victor cria aproximam Guimarães do Brasil: “Quero ser um elo”

Pedro C. Esteves
Sociedade \ sexta-feira, janeiro 20, 2023
© Direitos reservados
Em Portugal há dez anos, o investigador quer criar uma associação para aproximar o berço da comunidade brasileira. Por cá, cria "redes" para que o potencial que chega não seja subaproveitado.

Para evitar que Guimarães seja cidade madrasta, há quem vá procurando informar-se à distância para evitar uma aterragem brusca. Victor Barros tem sido testemunha disso. Está numa mão cheia de grupos de Whatsapp e percebe que a comunidade brasileira na cidade berço ainda pode crescer mais. “Muitas das pessoas que estão nesses grupos ainda não vieram, muitos estão à espera de acertar coisas. Acho isso muito bonito, essa ajuda, ainda antes de a pessoa chegar, é confortável”.

Victor Barros é investigador e professor no Departamento de Sistemas de Informação da Escola de Engenharia da Universidade do Minho. Há dez anos, quando fez a mesma rota, veio “às cegas”. Agora, aproveita o conhecimento que ganhou para “criar pontes”. Já organizou eventos para a comunidade brasileira no Círculo de Arte e Recreio e na Fraterna. O propósito é sempre: aproximar o que, por vezes, pode estar longe. “Quero ser um elo”, resume. Os grupos de Whatsapp – onde não consegue acompanhar tudo ou “passaria lá o dia” – são mesmo uma pequena parte de uma tentativa mais ampla de integrar quem chega. Agora, está a ultimar esforços para criar uma associação com raízes em Guimarães – e ela fazia falta. “Comecei com a ideia no ano passado, já juntei pessoas, e agora no dia 19 de janeiro já vai em frente”.

Um coro para conectar

O objetivo é fazer uma “conexão” entre a comunidade brasileira e portuguesa, sem esquecer o espaço da lusofonia. Fala com carinho da ideia de “rede”. Quando o natural de Goiás chegou a Portugal esteve em Braga nos primeiros quatro anos. Estava na Universidade de São Paulo quando surgiu a oportunidade de cruzar o Atlântico. “Morava lá [em Braga], mas vinha para aqui todos os dias; fui integrando, envolvendo, e senti que era mais prático estar em Guimarães. A minha maior rede era aqui”, diz.

Próximo do tecido associativo local, integra o coro de comunidade En'Canto, da Sociedade Musical de Guimarães. Victor dá este exemplo para demonstrar como, através de um contacto próximo com professores e empresários, consegue “encontrar sinergias” e “conectar mais facilmente” as duas comunidades. No fundo, Victor contribui para fazer o potencial florescer.

“Há que envolver pessoas, criar dinamismo, com ligação à industria, serviços. Algo que, enquanto indivíduo, é complicado. Tenho estado em contacto com a Câmara Municipal de Guimarães e, como tenho essa abertura, a gente consegue ajudar muito mais a comunidade. Uma coisa é ajudar uma pessoa, outra é ajudar um conjunto. Tenho um privilégio de estar dentro da Universidade, que me dá uma grande abertura, também”, ressalva.

 


Excerto de atuação do coro En' Canto

 

“É importante para que as pessoas saibam os seus direitos”

Ajudar também é informar. E Victor já organizou ações com a comunidade na presença de membros da CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género ou da Autoridade para as Condições do Trabalho. “É importante para que as pessoas saibam os seus direitos. Se não sabe, o empregador aproveita-se. Para desconstruir isso, a pessoa deve ser dotada de informação. À medida que conhece, você é menos manipulado. Quando a pessoa sabe, ela pode negociar e não entrar em serviço escravo”.

Victor sente que ainda tem trabalho para fazer por cá. É por isso que quando chega a pergunta cliché – “E o futuro, passa por Portugal ou pelo regresso?”, responde com sentido de missão: “A gente também começa a fazer algo pelo Brasil – promover intercâmbio e relação – quando põe um pé fora. Quando regressar, regresso com a bagagem, mas perco muitos laços”.

Este trabalho integra a série "Guimarães, cidade bacana". O trabalho completo pode ser lido no jornal em papel de janeiro e os depoimentos estão nesta ligação.

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