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CIAJG deve estender “reconhecimento do setor cultural” a “outros domínios”

Tiago Mendes Dias
Cultura \ quinta-feira, março 03, 2022
© Direitos reservados
Coordenadora do museu realça necessidade de alargar o olhar “eurocêntrico” do museu a outras geografias e também de captar novos públicos, nomeadamente o espanhol.

Aquele que era o antigo mercado municipal transformou-se na Plataforma das Artes no início da década anterior. A sua âncora é uma sucessão de vértices e arestas a dourado e negro, que guarda o coração da arte contemporânea na cidade-berço: o Centro Internacional de Artes José de Guimarães, inaugurado a 24 de junho de 2012, ano da Capital Europeia da Cultura.

Depois de centenas de exposições, concertos e performances em 10 anos, o museu entreabre a porta para um olhar que extravase o “ponto de vista eurocêntrico” na sua programação cultural, com um programa de conversas que vai acolher vozes tão diversas como Mário Lúcio, nome maior da cultura de Cabo Verde, e Manuela Ribeiro Sanches, introdutora do pensamento pós-colonial em Guimarães, mas também Carlos Bernardo, engenheiro que contribuiu para a implementação da Universidade do Minho em Guimarães, e Nuno Grande, arquiteto.

Com várias exposições previstas para o primeiro semestre de 2022, - a dos quatro manifestos de José de GuimarãesArte Perturbadora, da década de 70, A ratoeira, dos anos 80, Esta cultura faz-nos velhos, da década de 90, e Quasi-manifesto, preparado para este ano -, a do vimaranense Max Fernandes, a da angolana Yonamine, sobre as várias facetas da Europa, e a de Raphael Fonseca, inspirada nas gárgulas da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, o CIAJG quer aproveitar a efeméride para “se interrogar”, para “refletir”, mas, de igual modo, para afirmar a presença noutros domínios que não o cultural e da crítica de arte, onde já é “reconhecido”.

“O grande desafio do CIAJG é acrescentar o reconhecimento nacional no setor cultural para reverberação para outros domínios. O museu já está na Rede Portuguesa de Arte Contemporânea. Já temos muito público da escolas, mas temos de acarinhar um público que nos é próximo, que é o espanhol. A consolidação deste projeto alia experimentalismo, rigor e comunicação”, realçou a coordenadora artística do equipamento, Marta Mestre, na conferência de apresentação do programa para o primeiro semestre dos 10 anos do CIAJG.

A partir da área de reservas da infraestrutura, a especialista em história da arte vincou que o o museu deve “construir uma consciência comum do mundo”, procurar “compreender as assimterias da arte” e desafiar o seu “lugar eurocêntrico”, reunindo “vozes do sul global”. Essa busca por “outras formas de entendimento do mundo” reflete-se na “hibridez” das linguagens patentes nas exposições, em voga nas correntes navegadas pela arte contemporânea.

“É missão do CIAJG ser um lugar de alteridade. Em Guimarães, isso é fundamental. É fundamental que isso reverbere para a comunidade. O próprio trabalho de José de Guimarães convoca a procura de um outro, não mitificado, colocado numa espécie de exotismo, mas próximo. Uma das missões deste centro pode ser a de criar um arquivo colonial”, acrescenta Marta Mestre.

 

Financiamento: “É esperar que o Estado passe das palavras aos atos”

Garantida a sua construção pelo orçamento da Capital Europeia da Cultura – cerca de 15 milhões de euros -, o CIAJG funcionou com dotação exclusiva do orçamento municipal até 2018. Nesse ano, o Orçamento do Estado incluiu pela primeira vez uma verba de 300 mil euros para aquele museu de arte contemporânea. O Centro Cultural de Belém, erguido no âmbito da CEC de 1994, em Lisboa, recebeu 16,8 milhões, e a Casa da Música, associada à CEC do Porto, em 2001, 7,6 milhões.

Tanto o vereador municipal para a Cultura, Paulo Lopes Silva, como o diretor executivo da Oficina, Ricardo Freitas, defenderam uma verba superior para o museu desenvolver o seu trabalho; ela é sobretudo necessária para garantir a conservação das cerca de 1.500 peças da coleção permanente e também antropólogos, que possam aprofundar o conhecimento exibido naquele museu.

“Continuamos em negociações com o Ministério da Cultura e com a Direção-Geral das Artes. É uma questão de reivindicar alguma justiça. Esse financiamento não é essencialmente pedido para diminuir o esforço financeiro do município. É para colmatar o que está em falta e não nos permite avançar mais. É essencial termos alguém para conservar, mas também antropólogos. É esperar que o Estado Central passe das palavras aos atos”, frisou o responsável pela cooperativa que gere a criação e a oferta cultural do município.

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