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Manu encontrou aqui uma cidade que abranda um “cérebro com demasiado ruído”

Pedro C. Esteves
Sociedade \ segunda-feira, janeiro 30, 2023
© Direitos reservados
Manu Bezerra de Melo nasceu no Recife, passou por Braga e está em Guimarães desde 2019. O ano passado foi lotado em acontecimentos. Na cultura, vê gente que "não deixa de realizar coisas".

Há gente que “faz coisas” – e muitas. Mas falta mais integração entre comunidades imigrantes, salienta Manuella Bezerra de Melo. O percurso da escritora na cultura em Portugal tem início antes de sequer chegar a solo vimaranense. Começou a circular em festivais literários por todo o país e depois de uma passagem por Braga encontra em Guimarães uma cidade “pequena, mas intensa”, que aplaca um “cérebro com demasiado ruído”.

Natural do Recife, começa a “fazer coisas” mais afincadamente quando conhece Hannah e Carol. Em 2022, lança o seu livro, “Fado Atlântico”, cura uma antologia de textos antirracistas/antifascistas (Antologia Volta, editora Urutau), colabora com a Fundação Saramago, é convidada para feiras do livro. Em Guimarães desde 2019, encontrou por cá as pessoas certas para levar ideias avante.

Mas há quem nunca chegou a conhecer – e isso aplica-se a Manu, mas também a todas as pessoas que falaram com o Jornal de Guimarães. O “cansaço” acaba por ditar regressos prematuros ao ponto de partida Brasil. “Infelizmente, no que toca à mão de obra qualificada, suporta ficar um, dois anos, a trabalhar em lugares fora da área de formação, há essa predisposição, mas depois se nada acontece para de fazer sentido”, explica a jornalista de formação.

“Falta”, também, “muita informação de como aceder às coisas”. “O brasileiro desenrasca-se, só que aqui por é vezes difícil de compreender, como ir atrás daquele recurso, como candidatar a vagas, como fazer as coisas. As pessoas ficam confusas e subaproveitadas justamente por não saberem por onde proceder. Eu sou teimosa, curiosa, e se há coisa que sei fazer é ‘cavar’. Mas mesmo para mim é difícil de encontrar informações”.

“Há muitos brasileiros que não sabem que existe um documento [Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres], que funciona como estatuto que dá direitos de cidadania para muitas coisas, não todas”, explica. Com esta documentação, um brasileiro em Portugal que ainda não tenha tirado a cidadania pode, por exemplo, concorrer a bolsas de estudo, votar em eleições autárquicas ou obter o cartão de cidadão. “As pessoas perdem-se por não terem informação.”

Guimarães foi também ponto de encontro com pessoas que “valorizam a cultura”. “Tem uma malta muito boa aqui, das artes visuais, do cinema. Alegro-me de ter integrado com essas pessoas.” Hannah Bastos e Carol Bampa são exemplo de gente “acostumada a realizar as coisas com o que tem”. “Os recursos no Brasil lá são mais escassos, é tudo muito mais concorrido. O brasileiro, no entanto, não deixa de realizar as coisas”.

Nós, produtores de literatura

“A minha integração com o campo da cultura em Portugal aconteceu primeiro curiosamente fora de Guimarães, a nível nacional. Fiz muitos trabalhos fora de Guimarães, em Braga, Porto, Lisboa, comecei a circular em festivais literários no país inteiro e depois vir a Guimarães. Eu não conhecia muita gente do campo cultural em Guimarães até 2020”, explica.

Um das coisas que fez (ou ajudou a fazer) foi o Minha Poetry Slam. Exemplo de uma proposta cultura comunitária, de “democratização do acesso” à literatura. E mais do que isso. “As pessoas falam do acesso à leitura, à possibilidade de aceder ao que o outro escreveu, mas não da possibilidade do outro ser quem escreveu também. Isso é muito importante. A narrativa, a literatura produzida num país disputa memória também. A proposta do Minha também foi essa”.

Para Guimarães, foi também importante noutro sentido: o de entender que “todas as pessoas podem ser produtoras de literatura”.

Este trabalho integra a série "Guimarães, cidade bacana". O trabalho completo pode ser lido no jornal em papel de janeiro e os depoimentos estão nesta ligação.

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