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No final dos anos 80, quem faz o período de grande afirmação do PS é a JS

Redação
Sociedade \ sexta-feira, dezembro 16, 2022
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Conversas #22 | Esser Jorge, sociólogo e professor do ensino superior, é o convidado da última edição de “Conversas”, numa viagem por algumas das memórias que passam por Cabo Verde, Angola e Portugal.

Em 1975 chega a Portugal, aos arredores de Guimarães. Que impressões retém dessa chegada?

Vim para São Lourenço de Selho e tive um primeiro impacto da cidade de Guimarães muito negativo. A minha imagem de cidade era Luanda, uma cidade muito modernista. Chegar a Guimarães foi, de repente, vir para uma realidade completamente diferente; pareceu-me, numa primeira impressão, uma cidade muito triste. O meu primeiro olhar foi de uma cidade a precisar de “ser consertada”.

 

Faz os últimos anos do ensino básico em S. Torcato, mas o Secundário é feito na cidade, na Escola Secundária Francisco de Holanda.

Nessa escola fui muito feliz. Continua a ser a minha escola. Entrei com todas as dúvidas, devagar, mas onde venho a encontrar gente a quem ainda hoje tenho amizade. Havia uma grande camaradagem nos primeiros anos. A certa altura começou a ser uma participação muito ativa através de uma relação muito próxima com muitos professores. Conheci nessa altura o professor Santos Simões, que nunca foi meu professor, mas deu-me sempre a sua amizade e recebeu-me sempre bem quando quis falar com ele. Nas atividades que desenvolvi na escola, como no jornal Perspetivas, ele era o primeiro a estar na linha da frente, a apoiar não só esse projeto, mas também outros.

 

Vai estudar para a Universidade muito tarde; porquê?

É um processo que resulta de vários adiamentos. Tive funções de enorme responsabilidade em algumas empresas e isso ocupava-me o espírito. O pouco tempo livre que tinha, dedicava-o ao jornalismo que me dava o prazer imediato. Contudo, mantinha a ideia de que deveria estudar; nunca abandonei esse espírito. A certa altura foi reforçado com o apoio daquela que é hoje a minha mulher e, já depois de casado, convenceu-me a que voltasse a estudar. Foi um processo, mas também uma satisfação interior.

 

Na transição da década de 1980 para a de 1990 verifica-se um dos tempos mais ricos da história recente da política vimaranense; é jovem mas está no centro dessa ação política.

Aquilo que foi a mudança efetiva em Guimarães não se deu em 1974. A mudança, do ponto de vista da representação política, da aceitação da política e de saber o que se fazer com a política, não se dá logo no imediato; vai-se dando ao longo da década de 1980. Percebe--se que há mudança em vários concelhos, Braga, Fafe, Famalicão, mas não há em Guimarães. Esse grupo de jovens de que faço parte, compreendendo isso, vai organizar-se à volta da Juventude Socialista, que fundámos em Guimarães, e vamos constituir-nos como os indivíduos que vão produzir um corpo do Partido Socialista com capacidade de intervenção pública.

 

Enquanto Secretário Coordenador da Juventude Socialista em Guimarães, tem que moderar algumas disputas com outros órgãos do PS local.

Foi um período interessante. Não foi fácil. O PSD e o PS disputavam a liderança política em Guimarães, pelo que havia necessidade de haver na Câmara uma espécie de acordo de governação. Esse acordo fazia diluir o ato político, o ato do conflito político. Assim, ambos os partidos diluíam-se na atividade gestionária da Câmara, entrando num processo de que não se podiam ferir um ao outro. Ora, nós não tínhamos responsabilidades nenhumas nisso e fazíamos o papel de opositores ao regime. Tínhamos uma perspetiva de intervenção política bastante acutilante. Não era apenas em relação ao partido que se nos opunha; era também em relação ao nosso partido, o Partido Socialista.

 

Nessas funções sente-se que assume igualmente um papel de pacificador junto dos elementos mais radicais; concorda?

Tentei fazer esse papel, mas também escrevia no Povo de Guimarães e, normalmente, o que eu escrevia não era muito agradável. Fiz esse papel de ser o conciliador que, em certa medida, tê-lo-ei conseguido quando vamos para as eleições de 1989. Nesse ano, a Juventude Socialista tem a maior e melhor representação política nas listas do Partido Socialista. Isto foi conseguido numa perspetiva de luta, de dirimirmos de parte a parte o que tínhamos de dirimir e para se conseguir que esse número elevado de jovens nas listas do Partido Socialista se viesse a verificar. Hoje, a alguma distância, penso que quem ficou a ganhar foi António Magalhães.

 

Voltando ao final dos anos 80 do século passado, não se justificava, atualmente, uma maior atenção à atividade política desse tempo?

É um tempo riquíssimo que vai definir o futuro de Guimarães nos anos seguintes e nessa definição tem grande responsabilidade esse grupo da Juventude Socialista que tem uma atividade bastante extensa e intensa. O Dr. António Magalhães viria a ser pessoa que teve os créditos desse período, mas quem faz esse período de grande afirmação do Partido Socialista é a Juventude Socialista, que concentra no PS e na Juventude Socialista, e nas discussões entre o PS e a Juventude Socialista, todo o interesse da política concelhia.

Esse período devia ser estudado. Porém, não somos um concelho que se estude muito. O nosso concelho, infelizmente, não gosta de se estudar muito.

Entrevista: António Magalhães

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