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A eleição que todos perderam

Rui Antunes
Opinião \ quarta-feira, setembro 29, 2021
© Direitos reservados
Apesar do aumento do número de candidaturas, não houve capacidade de mobilização do eleitorado e de envolvimento da população em torno dos projetos políticos em debate.

No rescaldo das eleições autárquicas, importa refletir sobre os resultados. A abstenção continua a aumentar e há mais votos brancos. Apesar do aumento do número de candidaturas e, portanto, mais alternativas para escolha, não houve capacidade de mobilização do eleitorado e de envolvimento da população em geral em torno dos projetos políticos em debate.

A pandemia, que condicionou fortemente a campanha presidencial, realizada em janeiro, não teve tanto impacto nesta campanha. Na rua, as pessoas estavam disponíveis para ouvir e serem ouvidas. Esta falta de vontade em votar poderá resultar do desligamento das pessoas em relação à política, porque não são chamadas a participar ao longo dos mandatos e as decisões que vão sendo tomadas não resolvem os problemas concretos das suas vidas.

O Bloco de Esquerda continua a sofrer com a parca implantação no território e, a nível nacional, perdeu cerca de 30 mil votos e elegeu apenas 4 vereadores (Lisboa, Almada, Salvaterra de Magos e Porto). O PS vence a maioria das Câmaras mesmo tendo perdido quase 250 mil votos. O PSD também perde votos, mas ganha Coimbra e Lisboa e Rui Rio fica mais confortável na liderança. O PCP perde quase 40 mil votos e, surpreendentemente, Bernardino Soares perde a Câmara de Loures. No caso do PAN mantém praticamente o mesmo número de votos e eleitos para as assembleias municipais. Os estreantes Iniciativa Liberal e Chega conseguem eleger para vários órgãos, incluindo a Assembleia Municipal de Guimarães. O partido de extrema-direita consegue agregar o voto do protesto e elege 19 vereadores, um dos quais no Distrito de Braga (Vila Verde), no entanto não atinge os objetivos definidos: não consegue ser a terceira força nacional e é arrasado em Moura, onde o líder era candidato.

A surpresa da noite foi o Município de Lisboa. Apesar da má campanha da coligação Novos Temos, que não foi capaz de apresentar soluções para os principais problemas da capital, como a habitação e a mobilidade, a notoriedade de Carlos Moedas permite a sua eleição como Presidente da Câmara. Em relação há quatro anos, o Partido Socialista perde cerca de 26 mil votos, a coligação de direita mantém praticamente a votação anterior do PSD e do CDS e ganha por 2300 votos. As sondagens atribuíam vantagens confortáveis a Fernando Medina e isso poderá ter contribuído para a desmobilização do eleitorado.

No Porto, Rui Moreira perde a maioria absoluta e o Partido Socialista desce 8 pp. em relação à última eleição. A utilização do Plano de Recuperação e Resiliência por parte de António Costa, que inclusivamente foi ao Porto, no último dia de campanha, prometer financiamento para as ideias de Tiago Barbosa Ribeiro, penalizou os resultados do candidato portuense e genericamente por todo o país. Nestes centros urbanos, parece ter mesmo havido um cartão amarelo ao Primeiro Ministro.

Em Guimarães, o Partido Socialista reforça a maioria no executivo vimaranense, apesar da perda de quase 6 mil votos. O PSD também perde mais de 5 mil votos. Na Assembleia, tanto PS como PSD perdem um deputado cada, que foi para a IL e o CH. O PCP/PEV e o BE mantêm praticamente a mesma votação e conseguem eleger o mesmo número para a AM (3 e 1, respetivamente).

Eleitos os órgãos de governo local, resta-nos exigir o cumprimento dos programas eleitorais sufragados, fiscalizar a atividade dos eleitos, reclamar mecanismos de transparência e participação nas principais decisões, contribuindo com ideias e propostas para melhorar as nossas freguesias e concelhos.

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