A Europa do Principezinho
É loucura odiar todas as rosas só porque uma te espetou (O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry)
Num momento em que o manuscrito e os desenhos originais d’ O Principezinho regressam, pela primeira vez, a casa, tomemos este clássico universal como lembrete à nossa Europa ferida.
Paris acolhe a exposição retrospetiva da obra-prima de Saint-Exupéry, o terceiro livro mais traduzido do mundo, depois da Bíblia e do Alcorão, usado como ferramenta de aprendizagem e até de recuperação de dialetos em perigo de extinção (como o toba, idioma de uma etnia do norte da Argentina). Sim, em risco de extinção como os animais, porque as palavras e, por extensão, os livros, carregam vida, risos, lágrimas, esperança, memórias coletivas de gerações inteiras.
A retrospetiva devia ter acontecido em 2021, mas teve que ser adiada devido à pandemia e marca o 75º aniversário da publicação do livro em França. Como seria O Principezinho, se o menino loiro, de vestes coloridas e excêntricas, viajasse do asteroide B-612 até ao planeta Terra em 2022?
Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos
No início do ano passado, partilhei a primeira crónica de viagens no Jornal de Guimarães, sob o título “O vírus que roubou a liberdade”. O tema era incontornável, numa altura em que o isolamento impedia viajantes, profissionais ou não, de explorarem este mundo imenso.
Naquele texto defendi que viajar constitui um maravilhoso sinal de evolução civilizacional, avanço que foi profundamente abalado pela covid-19. Eis, quando, dois anos depois, o mundo parecia querer regressar ao “normal”, surge um novo retrocesso. Nada mais, nada menos, que uma guerra. Na Europa, cenário dos piores conflitos armados da história.
Espaços aéreos fechados, sanções económicas, forças militares de prevenção. Um seguidor perguntou há dias se, na minha opinião, devia manter a sua viagem à Polónia, marcada para março. Confesso que a pergunta me deixou um pouco atordoada.
Primeiro, porque a Polónia é vizinha da Ucrânia, logo, muito próxima da região de risco. Em segundo lugar, porque não sou vidente, não sei como o conflito vai evoluir. Para além do que, a Polónia está a receber milhares de refugiados e, possivelmente, parte do alojamento turístico ser-lhes-á destinado, num futuro próximo.
Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas
Escrito durante outra página negra da nossa história comum – a II Guerra Mundial -, o sucesso d’ O Principezinho reside no facto de carregar uma mensagem universal de amor e de esperança, independentemente da nossa idade ou origem".
Se o aviador francês (que nunca chegou a testemunhar o sucesso estrondoso da sua obra literária) pudesse assistir aos noticiários sobre a Europa, provavelmente acrescentaria um planeta para o pequeno príncipe visitar e, atónito, constatar o comportamento infame dos adultos. Abanaria, pelo menos, a cabeça em descrença, perante a pergunta que recebi no email. Da minha parte, desejo apenas paz, para ir a Paris, celebrar esta maravilhosa fábula intemporal.