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A maresia que atrai os vimaranenses

Alfredo Oliveira
Opinião \ quarta-feira, agosto 11, 2021
© Direitos reservados
O oceano exerce, sem dúvida, um fascínio que os vimaranenses sempre tiveram desde a sua infância e se vai mantendo e prolongando ao longo da sua vida.

Há alguns anos, através de um projeto europeu (Comenius), recebemos um grupo de alunos de uma escola secundária da Roménia. Uma das visitas era à cidade do Porto, mas, através de uma conversa prévia com os professores romenos, decidimos passar pela praia de Matosinhos. À medida que a gente se aproximava, notou-se um burburinho misturado com uma certa ansiedade. Quando se abriu a porta do autocarro e se deu permissão para os alunos irem para a praia e molhar os pés, assistiu-se a uma genuína alegria a que raramente assistimos, quando todos começaram a correr desenfreados pela areia em direção ao mar.

O oceano exerce, sem dúvida, um fascínio que os vimaranenses sempre tiveram desde a sua infância e se vai mantendo e prolongando ao longo da sua vida.

A Póvoa de Varzim foi, e é ainda, a praia da maioria dos vimaranenses. Recuando até à geração de sessenta, todos se lembram da aventura que era a programação da ida à praia ao domingo. A ansiedade, os planos, a desilusão de sair de casa com trinta graus e ser acolhido com uma neblina que só pelas onze horas deixava ver o sol. Antes dos bolinhos de bacalhau, dos panados ou do frango assado, ainda se ia a banhos. A água sempre gelada dava para revigorar o corpo todo. Pelas dezassete horas, a nortada levanta-se sendo prenúncio da retirada. Mais de duas horas demorava a viagem de regresso, incluindo as passagens de nível que tornavam a estrada nacional até Famalicão um verdadeiro calvário. 

Mais tarde, veio a estadia de quinze dias ou um mês nos quartos ou nas casas alugadas na Latino Coelho e António Graça ou na Avenida Santos Graça e outras artérias para os mais abastados. Tempos que antecederam a compra de casas na Avenida dos Banhos que os têxteis permitiram adquirir.

Bons tempos, em que esperávamos que chovesse para podermos ir à matiné no Garrett ver o Cantinflas, o Joselito ou o Trinitá por dois escudos e meio ou, quando havia mais dinheiro, três escudos para as duas filas da frente, no primeiro balcão.

Com o passar dos anos, ficam na memória os finais das noites passadas no Predilecto. O facto de haver pouca escolha facultava encontrar os amigos a determinadas horas sem ser necessário mandar SMS ou fazer chamadas telefónicas. Ou o final da tarde ou início da noite a jogar bilhar num café na Junqueira (o nome já foi esquecido), sempre ao som do “ Nights in White Satie"ou do ‘A Whiter Shade of Pale”, músicas tocadas nos singles de 45 rotações da jukebox existente no espaço.

O infeliz fecho da linha ferroviária, tal como muitas outras no país, e o apostar nas autoestradas mudou o panorama e a forma como um vimaranense via e vê a Póvoa. Por outro lado, o aumento do nível de vida dos portugueses permitiu que as férias já não fossem “obrigatoriamente” na Póvoa. Por outro lado, a rapidez proporcionada pela autoestrada permite que os vimaranenses possam “ir tomar um café ao Guarda Sol” ou jantar sem grandes problemas.

Os tempos são outros, mas as memórias permanecem.

 

Editorial do Jornal de Guimarães em Revista, edição 05, agosto de 2021

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