A mentira como estratégia política
A extrema-direita esteve reunida em congresso para tentar, pela enésima vez, corrigir as irregularidades apontadas pelo Tribunal Constitucional. É marca do partido Chega o incumprimento constante da lei. Convenções, estatutos e contas de campanha sempre com irregularidades. Uma organização centrada num homem só, com a vassalagem e culto ao líder, é incompatível com a democracia popular. O principal objetivo deste partido é a destruição das instituições, para proteger os ricos e poderosos à custa dos mais pobres e frágeis.
Os ataques à comunicação social são uma das principais armas do partido. Impedem jornalistas de estar presentes nas suas iniciativas e descredibilizam profissionais e órgãos de comunicação social. Enfraquecer o jornalismo é o objetivo para restringir o direito à informação credível, para que as mentiras que constantemente propagam não sejam detetadas, ou que as alarvidades que defendem sejam explicadas. Foi precisamente isso que André Ventura fez quando confrontado com a intervenção de Rui Cruz que se assumiu fascista. Todos sabermos que por lá há muitos, e mesmo assim André Ventura presta-se ao ridículo de apontar o dedo aos jornalistas.
O propósito é desligar o eleitorado do pensamento crítico e do debate de ideias, para que a única fonte de informação seja as redes de comunicação do partido. A partir delas, fomentam o ódio entre pobres e miseráveis. Espalham as mentiras que os dirigentes também entoaram neste congresso. Um dos que mais insistiu na mentira foi Filipe Melo, deputado eleito pelo distrito de Braga, que disse que os imigrantes vêm para cá beneficiar da Segurança Social. Isto é falso, como vários relatórios demonstram. O saldo entre as contribuições pagas pelos imigrantes e os benefícios recebidos é positiva em milhares de milhões de euros. A percentagem de contribuintes é também maior nos imigrantes do que na restante população, porque os imigrantes que cá chegam vêm em idade para trabalhar (e trabalham!).
Outro alvo deste conservadorismo bacoco é a família e, em particular, os direitos das mulheres. Com o anúncio do corte dos 426 milhões de euros que o Orçamento de Estado dedica à igualdade de género (ideologia de género não existe e é mais uma invenção lunática da extrema-direita), ficamos a saber que o Chega pretende acabar com os subsídios de maternidade/paternidade e com as creches gratuitas ou encerrar as casas de abrigo para vítimas de violência doméstica.
Anunciaram ainda cortes de impostos. No total, seria uma perda de mais de 14 mil milhões de euros da receita do Estado. Naturalmente, a diminuição da receita tem de ser acompanhada pela diminuição da despesa. Ou seja, as borlas fiscais prometidas aos mais ricos serão feitas à custa dos serviços públicos usados pelos mais pobres, entre eles a escola pública e o serviço nacional de saúde. Dizem também que a crise na habitação será resolvida por um imposto sobre a banca, mas bem sabemos o que foi feito em Itália por esta extrema-direita. Disseram que seria 40% sobre os lucros e acabou no máximo em 0,1% dos ativos. Mais uma mentira para enganar os eleitores. Sobre os vistos gold e os residentes não habituais, principais responsáveis pelo aumento de preços das casas nas cidades, nem uma palavra. Imigrantes milionários já não são um problema para este partido de privilegiados.
Por fim, uma nota sobre a corrida de oportunistas do PSD, IL e CDS para assegurarem lugar nas listas eleitorais do Chega. É gente sem espinha dorsal, sem convicções e disposta a tudo por um lugar na Assembleia da República. É esta falta de escrúpulos que promove os tachos e a corrupção, ao contrário do que apregoam.