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A mentira é lucrativa

Rui Antunes
Opinião \ segunda-feira, janeiro 13, 2025
© Direitos reservados
As gigantes tecnológicas já perceberam o poder que podem ter. A mentira e falsidade pode influenciar a opinião pública, enfraquecer governos e provocar crises económicas e sociais.

A liberdade de imprensa é um dos pilares fundamentais das democracias. Sem jornalismo livre, as sociedades são coxas. Não há escrutínio do poder político, nem apuramento da verdade e investigação séria e rigorosa dos mais variados temas. Os cidadãos deixam de conseguir, em liberdade, fazer avaliações e tomar decisões, uma vez que não dispõem de dados verdadeiros sobre a realidade que pretendem compreender. É esta liberdade que está ameaçada.

Recentemente, o jornal Washington Post recusou publicar um cartoon da artista premiada Ann Telnaes. A imagem caricaturava a fila de multimilionários que se deslocam à mansão do recém-eleito presidente dos Estados Unidos de América Donald Trump para pedir favores para o mandato que inicia em breve. Entre eles estava Jeff Bezos, CEO da Amazon e dono do Washington Post. Segundo a autora, nunca na sua carreira tal tinha acontecido. Já lhe pediram para fazer pequenas alterações de desenhos, porque poderiam dificultar a interpretação dos leitores do jornal, mas nunca foi recusado um cartoon por afetar um conjunto de personalidades privilegiadas.

A artista acabou por se demitir e escrever um artigo a alertar como este facto é “perigoso para a liberdade de imprensa”. Sem a possibilidade de se expressar livremente, os colaboradores dos jornais ficam amputados das suas ferramentas de interpretação da realidade. Em particular, o cartoon deve fazer ilustrações humorísticas de pessoas ou situações. Ridicularizar aqueles milionários que pretendem a desregulação total das atividades económicas, para aumentar desenfreadamente os seus lucros, deveria ser admissível em qualquer sociedade livre.

No entanto, tanto essa liberdade jornalística e artística, como a verdade dos factos, é um atentado para essas gigantes tecnológicas. A Meta, dona do Facebook, sabe bem como as mentiras e as fakenews são lucrativas. Mark Zuckerberg, ao remover o verificador dos factos naquela rede social, sabe o dinheiro que pode ganhar com isso. As fakenews tem um alcance superior porque aumentam as interações, partilhas e discussões, fazendo multiplicar o dinheiro recebido pela publicidade. As pessoas, mesmo que seja a contradizer as mentiras desses conteúdos, acabam por passar mais tempo na rede social, aumentando ainda mais as receitas.

Por isso, a realidade que se vive tanto no Facebook como no X, de Elon Musk, é alternativa. A mentira é propagada a uma velocidade muito superior à verdade. As pessoas com menos espírito crítico assentam as suas opiniões em mentiras e interpretam um mundo inexistente. As gigantes tecnológicas já perceberam o poder que podem ter. Sabem que a mentira e falsidade pode influenciar a opinião pública, enfraquecer governos eleitos e provocar crises financeiras e sociais.

Na verdade, apesar de estes milionários gritarem que retiram os verificadores de factos em nome da liberdade de expressão, o que lhes interessa é apenas o aumento das receitas publicitárias e a possibilidade de influenciar democracias para eleger governos que tomem decisões que os favoreçam. O que choca ainda mais é o exercito de seguidores que fazem campanhas de defesa destes milionários, como se estas decisões fossem inócuas para eles próprios. São os influenciados que pensam viver num mundo virtual mais livre que são os principais alvos das mentiras.

Tal como obrigou o Supremo Tribunal Federal do Brasil, estas empresas têm de cumprir regras e respeitar o Estado de Direito. É preciso coragem para enfrentar estas empresas para não deixarmos que os principais inimigos da liberdade continuem a propagar as suas mentiras.

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