Artefactos pré-históricos do Sul, em Guimarães
São dos elementos mais curiosos da Pré-história do Sul de Portugal, recolhidas em quantidades consideráveis (da ordem dos milhares), sobretudo em monumentos megalíticos, mas também em contextos de povoado. As placas de xisto gravadas aparecem num âmbito geográfico de limites naturalmente difusos, mas com um aparente epicentro no Alentejo médio, onde vários monumentos conservavam dezenas de exemplares. Terão sido gravadas entre os finais do quarto milénio a. C. e a primeira metade do terceiro, ou seja, entre o final do Neolítico e o Calcolítico.
São placas em xisto que, uma vez obtidas, eram polidas e profusamente decoradas com gravação de motivos geométricos, particularmente triângulos, geralmente gravados a cheio, e outras incisões retilíneas, preenchidas ou não. Destacam-se depois os motivos que, em muitos casos, lhe atribuem uma iconografia antropomórfica, como olhos, narinas, cabelos... O próprio formato, tendencialmente trapezoidal, de grande parte destas peças, por vezes reforçado com o talhe de "ombros", sugere a representação humana. De facto, a decoração costuma definir dois campos distintos, um superior e um inferior, "cabeça e tronco" desta figura estilizada, sendo que algumas placas possuem mesmo uma representação de figura humana no seu interior. Temos depois as perfurações, em número variável, que sugerem a suspensão destes objetos.
Falamos de artefactos associados ao mundo magico-ritual, concretamente às práticas funerárias, como é consensual entre os pré-historiadores. De facto, a maioria destas placas integravam o espólio de monumentos megalíticos e, quando recolhidas em povoados, ou estariam no seu local de fabrico, ou seriam pertença de alguém que preparava a sua viagem para o além. Algumas, muito poucas, estavam ainda sobre o peito do defunto que acompanharam. A figura humana implícita no seu formato e decoração, sugere a figuração do defunto ou, como também se avança, de uma divindade, geralmente feminina.
O recentemente falecido arqueólogo Victor S. Gonçalves foi dos investigadores que mais se dedicou ao estudo deste espólio e quem o conheceu com maior detalhe, tendo sido um dos coordenadores do projeto "Placa Nostra", um trabalho de recuperação, inventariação e estudo de uma quantidade considerável destas curiosas peças.
Este resumo, muito genérico, serve apenas para introduzir duas peças: uma placa inteira e o fragmento de uma outra, existentes no Museu Martins Sarmento, que são, entre nós, objetos exóticos. Provenientes de Portalegre, testemunham a abrangência geográfica do espólio do Museu Martins Sarmento e a relativamente comum oferta de peças entre instituições, até à década de 1970, embora se desconheça o doador do pequeno conjunto que que elas integram. Estas duas vistosas placas gravadas estarão em destaque no Museu durante o mês de junho.
Placa gravada em xisto, proveniente de Portalegre, guardada no Museu Martins Sarmento.