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Uma nova centralidade:Vimaranes Quartier Latin e Dominicas Renascença Domus

Carlos Caneja Amorim
Opinião \ quarta-feira, dezembro 13, 2023
© Direitos reservados
Guimarães deve marcar a diferença e sinalizar ao mundo que, quando todos se focam na dimensão tecnológica do futuro, nós dizemos sim ao renascer do saber clássico e do pensamento humanista.

À escala mundial, o futuro tecnológico será dominado pela computação quântica, a qual vai revolucionar todos os ramos do saber e todas as áreas de negócio. Haverá um antes e um depois. A indústria vimaranense tem de circular nesta autoestrada para a sobrevivência e para o sucesso, sob pena de ficar obsoleta. Daí ter defendido, no meu último artigo, essa priorização em termos de desenvolvimento do concelho, otimizando a ligação à Universidade do Minho. Mas, Guimarães, terra cosmopolita e de saber, não pode deixar de fazer a diferença, criando identidade e pensando alto: numa era futura que se adivinha tecnocrática, digital e robótica, importa que o humano não seja negligenciado, impondo-se dar centralidade ao ideário renascentista, humanista e de promoção da cultura clássica.

Como referi plurais vezes, é indiscutível que foi uma grande conquista a realização da Capital Europeia da Cultura em 2012, sendo consensual o seu sucesso relativo, mas também verdade é que foi dada pouca importância ao pensamento per se (rectius: à intelectualidade) e à própria dimensão judaico-cristã da nossa identidade, mormente, a importância da Igreja Católica na história da nossa comunidade. 

Perceba-se: não obstante ser católico e cristão no plano pessoal, como cidadão defendo a laicidade do Estado. Aliás, até como CC (Cristão - Católico) o defendo. Esclarecendo: quero separação absoluta entre Estado e Igreja, e não quero um tratamento de favor ou qualquer privilégio para a minha Igreja, ou para qualquer outra entidade; impõe-se, contudo, exigir, como cidadão, que essa mesma Igreja Católica também não seja discriminada ou perseguida.

É indiscutível que a Igreja Católica foi e é uma das forças vivas mais importantes do nosso concelho, tendo, até, ligação germinal (fundacional) à comunidade vimaranense histórica, que, como sabemos, deu origem a um país chamado Portugal. E se, no plano universal, podemos e devemos censurar a Igreja Católica pelos erros cometidos face, por exemplo, ao estatuto da mulher e à relevância da ciência, também não podemos olvidar a importância cultural e social da mesma.

Num Estado Laico, devemos tratar todas as pessoas e entidades de forma igual, incluindo a Igreja Católica. Ora, estando esta, objetivamente, ligada à nossa história cultural e social, sendo pedra angular da nossa construção como comunidade, estranhei o seu esquecimento pela CEC 2012.

Avançando: defendo que Guimarães deve marcar a diferença e sinalizar ao mundo que, quando todos se focam em exclusivo na dimensão tecnológica do futuro, nós dizemos sim ao renascer do saber clássico e do pensamento humanista. Para corporizar essa ideia, sonho, de olhos abertos, com a criação da DOMINICAS RENASCENÇA DOMUS, que será o epicentro do Vimaranes Quartier Latin (bairro latino da intelectualidade, do saber e das livrarias e alfarrabistas de Guimarães).

No fundo, defendo, com recurso a fundos comunitários, uma intervenção de fundo e de restauro no Convento Santa Rosa de Lima, conhecido pelo Convento das Dominicas, que é propriedade da Câmara Municipal de Guimarães, por forma a destinar a mesma a centro vivo de promoção da cultura clássica e do ideário renascentista e humanista. Defendo, inclusive, que, no plano do “corpo académico” da DOMINICAS RENASCENÇA DOMUS se deve partir da prata da casa, convidando-se protagonistas vimaranenses (com interpretação extensiva: ligados ao território vimaranense) com mérito indiscutível nos saberes da História, Filosofia, Antropologia, Literatura, Arqueologia, Sociologia, Línguas, Arte, Pensamento Político, etc..

À laia de exígua amostra (pois, muitos outros existem, aos quais peço perdão por não referir), eis alguns nomes para coordenadores constituintes: Isabel Fernandes, Francisco Brito, Antero Ferreira, Fernando Capela Miguel, Francisco Oliveira, Gonçalo Cruz, António Magalhães (o professor e jornalista), Esser Jorge Silva, Orlando Coutinho, Amaro das Neves, António José Oliveira, José de Guimarães, Francisco Teixeira, Wladimir Brito, Paulo César Gonçalves..and so on).

Partindo destes coordenadores constituintes e seguindo as suas escolhas, visar-se-á realizar Aulas Magnas, no sentido de eventos do conhecimento e da intelectualidade, que se traduzirão em palestras especiais e de perfil alto, proferidas por personalidades renomadas no plano nacional e internacional, nos vários campos dos saberes clássicos. Ter-se-á igualmente por propósito que este “corpo académico” olhe, escute e reduza a escrito as plurais dimensões históricas, sociológicas, patrimoniais, etc., das Terras de Vimaranes, incluindo “arquivar” os saberes dos vários mesteres, da antiguidade até à contemporaneidade.

No fundo, o grande desiderato é: fazer de Guimarães centralidade internacional do pensamento crítico e humanista, proporcionando experiências enriquecedoras para públicos exigentes. Acresce: este projeto visa promover a integração na Domus e na área envolvente de várias livrarias (para além de literatura em língua portuguesa, seria interessante espaços exclusivos para literatura impressa noutras línguas, mormente, espanhola, francesa e Inglesa) e alfarrabistas (a Colofon de Francisco Brito, seria a primeira a ser desafiada). A própria Sociedade Martins Sarmento, que está sediada nas proximidades, seria uma parceira de referência.   

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