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Sabroso de cara lavada. Apenas o início...

Gonçalo Cruz
Opinião \ quarta-feira, junho 21, 2023
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Procurou-se dar uma utilidade social e cultural a estes vestígios, para os quais se chegou a pensar na possibilidade de aterro, preservando as ruínas sem as tornar visitáveis. Teria sido uma pena.

No âmbito das comemorações do Dia Um de Portugal, será inaugurada no próximo dia 25 de Junho, a reabilitação do Castro de Sabroso, em São Lourenço de Sande. A intervenção realizada pelas equipas da Era, Arqueologia, cujo profissionalismo está à vista, incluiu várias ações absolutamente necessárias, não apenas para a valorização turístico-cultural deste monumento milenar, mas sobretudo para o salvamento dos vestígios que ali se conservam. Esta intervenção em Sabroso foi sobretudo uma questão de salvaguarda, mais do que de musealização. O estado em que se encontravam os vestígios, esventrados pelo crescimento das acácias e por sucessivos incêndios, mais do que justificou a limpeza e conservação realizadas ao longo do ano de 2022.

Mas procurou-se também dar uma utilidade social e cultural a estes vestígios, para os quais se chegou a pensar na possibilidade de aterro, preservando as ruínas sem as tornar visitáveis. Teria sido uma pena, concluímos, agora que podemos olhar para a monumental muralha da Idade do Ferro e para a perfeição dos aparelhos, da muralha e de várias casas e lajeados, bem como para as várias gravuras rupestres.

É agora possível usufruir das potencialidades naturais e paisagísticas do local, subindo à nova varanda sobre o vale do Ave, que dá comodidade ao visitante e proteção à muralha que atravessa. Mas também se pode acompanhar a narrativa histórica da evolução do castro, do qual começa a desprender-se aquela mística castreja que emana da Citânia de Briteiros. De uma pequena comunidade de camponeses, que desde logo parece ter apostado tudo numa muralha gigantesca, a uma possível destruição em grande escala – um ataque, um incêndio, enfim, uma de muitas possíveis hecatombes anónimas da Antiguidade – até à reconstrução e ampliação do recinto, com uma tal qualidade construtiva, que faz pensar numa excentricidade da elite local. E além disso, o ritual: as gravuras que poderiam ter vindo dos ancestrais, o altar na acrópole, as esculturas de animais, que nos revelam um centro de culto desses tempos recuados. Demasiado íngreme, demasiado defendido, demasiado denso, fosse qual fosse o motivo, Sabroso não sobreviveu à Romanização.

Deve-se esta reabilitação à sensibilidade dos responsáveis pelo Município de Guimarães, mas também da sociedade civil, através do Orçamento Participativo, e da persistência da Sociedade Martins Sarmento, que assim honra o seu patrono, que muito por ali vagueou, em obsessivas reflexões sobre os Lusitanos, Lígures e Celtas...

Isto é, contudo, apenas o início. Apenas agora se começou uma valorização condigna do Castro de Sabroso, que requer restauro dos seus elementos construídos e não baixar a guarda em relação às acácias e outras infestantes. É também a partir de agora que, tal como na Citânia, começará a ter impacto a presença de visitantes, cujo civismo se solicita, naturalmente.

 

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