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“Cidade que sirva as pessoas e não os carros”

Alfredo Oliveira
Opinião \ sexta-feira, outubro 14, 2022
© Direitos reservados
A notícia de que a cidade de Guimarães iria fechar o seu centro histórico aos automóveis até ao final do próximo ano provocou um agitar de sensibilidades sobre o assunto.

Fez precisamente 127 anos, a 11 deste mês, que foi visto um Panhard-Levassor, o primeiro automóvel a chegar a Portugal. Corria o ano de 1895 e eram passados dez anos do aparecimento do primeiro automóvel construído por Karl Benz.

Desde essa altura que os veículos automóveis foram tomando conta das nossas vidas e do território onde vivemos. Também nos apropriamos do automóvel, tornando-o algo de que não podemos abdicar e que passou a ser sinal de afirmação profissional e social.

Durante décadas, os sábados e domingos ficavam marcados pelas passagens dos bólides pelo Toural, pelo estacionamento nas proximidades, pelo engraxar dos sapatos, pela compra do Primeiro de Janeiro, do Comércio do Porto ou do Jornal de Notícias e pelo engatar da primeira para ir almoçar ao Jordão a uma meia dúzia de metros de distância.

Durante a semana, como se costuma dizer, só não se entrava com ele nas lojas porque não cabia.

Os transportes públicos, como já demos conta em trabalhos anteriores, nunca foram implementados como uma verdadeira alternativa ao veículo privado. Fomos “educados”, durante décadas, a colocar como prioritário esse uso, tornamo-nos carro-dependentes e a gestão do território tinha como referência o uso do automóvel. Se existia um constrangimento numa rua ou se afunilava um acesso à cidade, a solução passava sempre por medidas que fomentavam ainda mais o uso do automóvel.

Por outro lado, o maior poder económico das famílias e automóveis para todos os bolsos levaram a um crescimento do parque automóvel que se traduziu, em 2020, na existência de 7.021.112 veículos para 10.333.765 portugueses.

A notícia de que a cidade de Guimarães iria fechar o seu centro histórico aos automóveis até ao final do próximo ano provocou um agitar de sensibilidades sobre o assunto.

Da nossa parte, não temos dúvidas, esta medida peca por tardia. Como já escrevemos em tempos, comparando com a cidade rival, Braga tem uma maior área pedonal do que a nossa cidade e, pelo que se conhece, não se vive mal com isso.

Não será fácil nos primeiros tempos, pois os hábitos e mentalidades custam a mudar. Mas temos já exemplos de boas práticas que a cidade foi implementando na retirada de veículos de algumas praças e ruas do centro histórico.

O fundamental é um bom arranjo urbanístico que cative as pessoas, alternativas para quem usa os transportes públicos e para quem ainda chega de carro ao centro da cidade.

Guimarães tem tudo para ser uma “cidade dos 15 minutos”, onde os visitantes podem fazer as suas compras, visitar o centro histórico ou usar os serviços existentes através de pequenas caminhadas.  

Como diz Carlo Moreno, criador do conceito, “A ideia é transformar as cidades que temos atualmente em cidades que sirvam as pessoas e não os carros”. Assim seja.

 

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