Cidades Impossíveis
Os graves problemas das nossas cidades parecem impossíveis de resolver. Há sempre alguém que, confrontado com alguma solução inovadora, apresenta obstáculos à sua concretização. Os problemas portugueses são semelhantes às cidades europeias. Alguns destes governos locais têm desencadeado estratégias para resolver problemas de habitação e mobilidade. A série documental de Ricardo Moreira, Cidades Impossíveis, mostra precisamente alguns bons exemplos.
No caso alemão, o município de Berlim, confrontado com aumentos das rendas superiores aos crescimentos de salários, aplicou políticas que garantam o direito à habitação. Além de ter adquirido milhares de casas para as arrendar a famílias pobres e da classe média, garantiu que as rendas das novas habitações ficariam congeladas durante anos. O controlo público de parte do mercado de arrendamento é uma medida necessária e justa que impede a escalada de preços e garante o acesso a preços que as pessoas podem pagar.
Em Bruxelas, este documentário mostra como é possível aproveitar espaços inutilizados, como os telhados dos prédios, para produzir produtos hortícolas e até peixes. Com escassez de espaço para a agricultura e com a pressão do mercado alimentar a nível mundial, assegurar a soberania alimentar das comunidades é imperiosa.
Na cidade catalã está a acontecer uma revolução no espaço público. Barcelona está a devolver as ruas às pessoas e, parar isso, está a retirar os carros de uma boa parte das ruas. É um processo faseado, começando por zonas onde a pressão automóvel era mais violenta, mas que cada vez mais tem o interesse da população de outras zonas da cidade. Os superquarteirões agora criados estão a devolver vida às ruas, com pessoas de todas as idades a usufruir com conforto e segurança do espaço público mais verde.
O Luxemburgo revela em como os recursos públicos podem ser canalizados para fins que verdadeiramente resolvem os problemas das pessoas. Em vez de mais dinheiro para construção e manutenção de estradas, o governo financia na totalidade os transportes públicos. Esta gratuitidade começou por ser apenas para jovens estudantes. Hoje, residentes, trabalhadores e turistas não pagam. A mobilidade urbana é então entendida como uma questão transversal e as políticas são desenvolvidas com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das populações.
Por último, esta série documental demonstra como Helsínquia tem sido das poucas cidades europeias onde a população sem abrigo tem diminuído. A cidade finlandesa adota o princípio de Housing First, segundo o qual a habitação é a prioridade, só depois se podem resolver os restantes problemas sociais que afetam esta camada mais frágil da sociedade.
Estes exemplos de projetos de inovação social e ambiental ilustram como os governos locais tem capacidade de transformações radicais da vida das pessoas. Com vontade e coragem política é possível enfrentar os graves problemas de habitação e mobilidade e construir concelhos onde as pessoas estão em primeiro lugar.