Em nome de Guimarães e de Portugal: carta aberta ao Dr. Luís Montenegro
Reza a lenda que, no anno domini de 1745, na Prússia, o rei Frederico II, constatou que, no seu recém-construído palácio de verão, a vista sobre a plenitude da paisagem era encurtada por um velho moinho, de um pobre homem. Ato contínuo, do alto do seu putativo poder absoluto, o rei ordenou que o destruíssem de imediato. O humilde moleiro respondeu não pretender demolir o seu moinho, mesmo que o soberano afirmasse que, com sua autoridade, poderia confiscar o seu terreno, e fazer nele o que entendesse. Com a serenidade dos bons homens, o moleiro garantiu a sua crença na justiça: "Vossa Alteza é que não entendeu: ainda há juízes em Berlim!"
Em boa e justa verdade, parto deste exemplo histórico, porquanto, antes do demais, importa ter bem presente que o fundamento substantivo da presente carta é defender que o critério base que deve enquadrar qualquer decisão política parte, imperativamente, dos valores da justiça e da democracia, e nunca, o que cumpre rejeitar de forma liminar, da arbitrariedade.
Dizia o saudoso fundador e presidente do PPD/PSD, Francisco Sá Carneiro: “– Acima da social-democracia, a democracia, acima da democracia, o Povo Português”. Por extenso: o partido e a própria ideologia são meios e não fins; os verdadeiros e genuínos fins da nobre atividade política são a democracia e o povo. Estes fins estão acima de tudo, incluindo do partido.
Aliás, compreenda-se: a perplexidade é de tal ordem, que, no normal acontecer, esta carta não existiria, pois, a pública e notória excelência demonstrada pelo André Coelho Lima no plenário da Assembleia da República, seria motivação mais que suficiente para a indicação do mesmo ser um facto consumado.
É património do PPD/PSD histórico, procurar e escolher sempre, para seus quadros superiores, os melhores nas várias áreas de atividade. Foi esse o segredo para fazer do PSD um partido com público prestígio e credibilidade e com vocação maioritária. Ora, a não indicação do André Coelho Lima para candidato a deputado pela CPC de Guimarães vai, precisamente, em sentido contrário daquilo que deveria ser o imperativo categórico das boas práticas históricas.
Perceba-se: André Coelho Lima é reconhecido por todos como um dos melhores parlamentares do país, o que sempre foi fonte de fundado orgulho para o PSD/Guimarães e, inclusivamente, para os vimaranenses e para os portugueses.
A maioria qualificada dos militantes e simpatizantes do PPD/PSD de Guimarães, e mesmo dos vimaranenses (o que é facto notório, logo não carece de demonstração: embora, possa avançar que, no espaço de dias, só eu, depois de tornar público o meu descontentamento, recebi, no global, perto de cinco centenas de chamadas e mensagens nesse sentido), não se revê na decisão da CPC de Guimarães de não indicação de André Coelho Lima como candidato a deputado.
Aqui chegados, importa saber se ainda vamos a tempo de proteger o superior de interesse de Guimarães e de Portugal (a dimensão política do André Coelho Lima, com é consensual, é já nacional).
Dúvidas não existirão, para ninguém, que será entusiástico o nosso aplauso ao Dr. Luís Montenegro, caso, como presidente do nosso partido e candidato a primeiro-ministro, queira fazer da indicação, em lugar justo e elegível, do André Coelho Lima, pela quota nacional, para deputado, uma prova do seu genuíno esforço para obter a unidade do partido.
O que seria, aliás, coerente, e até consequente, com a decisão que tomou em janeiro deste mesmo ano de 2023, de indicar o André Coelho Lima para coordenar o PSD no importante processo de revisão constitucional (uma escolha naturalmente prestigiante e reveladora do reconhecimento da qualidade deste quadro vimaranense); não faltam por isso motivos para que esse convite possa ainda surgir.
Sem rodeios, pensando alto e falando claro: esse é o meu apelo e o estrutural propósito desta carta.
Não tenho reserva mental, por isso importa reconhecer, em máxima honestidade, que também é natural que tal convite possa não suceder por ser público que André Coelho Lima é um dos rostos de Rui Rio, de quem foi vice-presidente, não sendo por isso próximo politicamente desta Direção Nacional.
Resumindo: se o Dr. Luís Montenegro quiser fazer a prova plena de que são fundacionais e constituintes os seus apelos à união, o convite ao André Coelho Lima para ser candidato a deputado será uma feliz realidade; se esse convite não surgir, concedo, desde já, que tal deve igualmente ser compreendido, por ser politicamente legítimo que o atual líder escolha os seus mais próximos em detrimento dos que o são menos.
A minha esperança, contudo, é que ainda haja JUSTIÇA em Lisboa.