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Em tempo de guerra: a semiótica como chave de leitura

Carlos Caneja Amorim
Opinião \ terça-feira, abril 05, 2022
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O que fere de morte a “imagem” da Federação Russa, com dano reputacional irreversível, é a perceção gritante: o gigante Golias, de forma arbitrária e imoral, esmaga e humilha o pequeno David.

Mesmo os não católicos ou cristãos quando veem uma cruz, associam a mesma ao cristianismo, ao caminho de dor quaresmal e à morte, bem como à ressurreição do filho de Deus. Em termos de comunicação, a cruz tem essa simbologia, sendo o caso base típico de exemplificação e de estudo da semiótica, filologia e sociologia da literatura.

Mas os símbolos, como bem ensina Umberto Eco, podem ser materiais e imateriais, tal como podem ser simples ou complexos, abrangendo a palavra (oral e escrita), bem como imagens (desenho, pintura, escultura, artefactos diversificados, fotografia…). Outro exemplo: a expressão “David contra Golias”, encerra em si uma simbologia polissémica, mas, que, num esforço de síntese, se resume a um combate entre forças colossalmente desiguais.

Por referência à guerra na Ucrânia, é, antes do demais, patente e consensual, mormente pelo “cânone ocidental”, que a Federação Russa é a censurável e exclusiva responsável, porquanto, de forma deliberada e sem casus belli, invadiu um país soberano. Mas, o que fere de morte a “imagem” da Federação Russa, com dano reputacional irreversível, é a perceção gritante: o gigante Golias de forma arbitrária e imoral esmaga e humilha o pequeno David.

E a partir daí, nesse caldo e viveiro fundador, outros símbolos nascem, resgatando, inclusive, passados recentes, tendo como fio condutor a carnal e sanguínea Suprema Injustiça: Grozni, Alepo, Mariupol, Bucha e Irpin.

Ação vs Reação: tendo como ação os documentados e televisionados massacres, eis a nossa reação coletiva: cavalga e irrompe, qual murro seco na alma, pelo nosso imaginário a estridente Guernica de Pablo Picasso, como chave de leitura, como arquétipo psicossomático.

Ato contínuo, ficamos reféns de uma palavra que nos assalta: Nuremberga, cidade do julgamento dos verdugos da Alemanha Nazi. Outro símbolo: Nuremberga é sinónimo da cogente necessidade de julgar os criminosos de guerra pelas inenarráveis atrocidades cometidas, garantindo a Justiça possível às vítimas, ou, melhor dizendo, aos mártires (assassinados ou feridos de morte para o que restar da vida).

Aqueles, como eu, que são católicos e/ou cristãos, recebem, à nascença, a herança da culpa judaico-cristã, funcionando, numa simbologia e lógica freudiana, como um luto que padece do eterno retorno, logo, sem fim... Hoje, mesmo num plano laico e secular, as gerações contemporâneas (num revivalismo das gerações da primeira e segunda guerras mundiais), só resgatarão a decência e sentido de humanidade assumindo um luto quaresmal pleno e genuíno, potenciando ser semente de ressurreição.   

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