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Evocar memórias em Briteiros

Gonçalo Cruz
Opinião \ terça-feira, outubro 12, 2021
© Direitos reservados
Na "Citânia Viva", reavivam-se também as velhas lendas, costumes e cantares de antanho, criados à sombra do monte da Citânia, das mouras ou mesmo de São Romão, como se canta em Briteiros.

No passado sábado, à noite, o Solar da Ponte de Briteiros foi o palco da evocação de um conjunto de memórias da figura de Francisco Martins Sarmento, num espetáculo encenado por Bruno Laborinho, com atores e figurantes oriundos da comunidade local. A "Citânia Viva" é um evento organizado pela Casa do Povo de Briteiros, que começou por uma "feira castreja" em 2004 e que desde cedo foi abraçado pela Sociedade Martins Sarmento como reforço de uma ligação com a população das freguesias que rodeiam o remoto castro, referência cultural e histórica deste trecho do concelho.

Evoluindo para um espetáculo performativo, para além do conceito necessariamente limitado de recriação histórica, o evento tem tido uma forte componente dramática, cruzando quase sempre o passado proto-histórico e romano com o momento em que o mesmo foi desvendado por Sarmento, os finais do século XIX. Pelo meio, reavivam-se também as velhas lendas, costumes e cantares de antanho, criados à sombra do monte da Citânia, das mouras, dos "romões" – como por vezes lhes chamavam – ou mesmo de São Romão, "há mais de mil anos nosso guardião", como se canta em Briteiros.

A situação pandémica limitou o evento, ainda em 2020, a um espetáculo mais simbólico, na margem do rio de Briteiros, a que também chamam Febras. Em 2021, regressou-se a um dos espaços que eternizam a obra de Sarmento, humanizando-o com as pessoas que outrora habitaram e trabalharam na Casa da Ponte. Olhavam para o arqueólogo com um misto de admiração e circunspeção: dos muitos livros, de como gostava de receber bem, de como apreciava as couves bem verdinhas ou do muito pó que trazia do monte... Mas regressaram também ao solar, no último sábado, os espectros desses misteriosos habitantes do castro, povoando os sonhos e as visões de um Sarmento submerso nos seus próprios diários de campo.

Já no exterior, a projeção de luz, imagens e som, envolveu, por fim, os visitantes nessa atmosfera nebulosa do passado remoto. Continuaremos para o ano que vem.

 

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