Março – mês de luta contra o cancro do intestino
Março foi simbolicamente o mês da luta contra o cancro do intestino (cólon e reto), tal como acontece todos os anos. Embora secundarizado o tema pela maior importância da guerra da Ucrânia, não podemos pensar que aqui a população está bem. Isso mesmo foi enfatizado principalmente pela Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, em múltiplas notícias das televisões, rádios e jornais diversos.
E não está bem porque a prevenção, que se revela altamente eficaz se for feita atempadamente, não tem sido realizada conforme será desejável. O Estado, ao ter constitucionalmente a responsabilidade de organizar, promover e facilitar o acesso ao rastreio e prevenção, tem sido muito ineficaz em cumprir as suas responsabilidades. Essencialmente por razões ideológicas e erros estratégicos incompatíveis com uma política eficiente de saúde pública.
Morrem por dia em Portugal onze pessoas vítima de cancro do intestino, cerca de quatro mil por ano, sendo esta doença do ponto de vista oncológico aquela que acarreta maior mortalidade. Sabe-se ainda que apesar de todos os dispendiosos tratamentos existentes a mortalidade aos 5 anos está próxima dos 50% e que o aconselhamento para o rastreio desta doença indica atualmente os 45 anos de idade para se iniciar.
É consensual também que a colonoscopia, ao permitir diagnosticar e remover num mesmo momento as lesões pré-malignas, revela-se como o método de eleição, pois é o único que consegue simultaneamente diagnosticar e prevenir o aparecimento da doença, não obrigando a outros exames subsequentes.
Ao impor que essas colonoscopias sejam realizadas nos hospitais públicos, a tutela está a inviabilizar um eficaz programa de rastreio. Porque a generalidade dos hospitais públicos têm enormes listas de espera nos exames complementares onde se incluem as colonoscopias, motivadas por défice de recursos humanos e tecnológicos, em simultâneo com uma desmesurada afluência de verdadeiros doentes necessitando impreterivelmente de cuidados hospitalares.
Acontece ainda que num número grande dos hospitais portugueses estes prestam uma assistência muito diferenciada, habitualmente chamada de fim de linha, não sobrando espaço, nem tempo, nem recursos para a prática de medicina preventiva. Criando assim grandes dificuldades na acessibilidade dos cidadãos.
E esta prevenção é comprovadamente a mais desejável, porque é mais eficaz, preservadora da qualidade de vida dos cidadãos e ainda por cima menos onerosa para quem a paga (por exemplo para o Estado). Alem disso está comprovado que a medicina fora do sistema público é significativamente mais barata.
Pelo que se a tutela se libertar de lamentáveis opções ideológicas deverá negociar e convencionar com os prestadores privados um eficaz e monitorizado programa de rastreio e prevenção do cancro do cólon e reto, seguindo as recomendações cientificas nacionais e internacionais, de forma a cumprir as suas obrigações constitucionais de promover a acessibilidade dos cidadãos a cuidados de saúde de qualidade, que não se compadecem com listas de espera inqualificáveis e procedimentos que não estejam atualizados de acordo com o atual estado da arte.
Aguardemos pelo que aí vem deste novo Governo, na certeza de que a nossa saúde se deverá sobrepor à ideologia política de quem nos governa! Medicina estatal sim, com qualidade e com acessibilidade para os cidadãos. Quando tal não é exequível, outras soluções forçosamente se têm de encontrar. O cancro colorretal é uma guerra que não está vencida mas que nos importa vencer. A todos, independentemente do sexo, raça ou condição social! É um problema transversal da sociedade contemporânea.