Município de Guimarães: Desafios para 2023
O Município de Guimarães para o próximo ano (ou década) carece de enfrentar plurais desafios que passam por duas palavras na moda: sustentabilidade e resiliência. Quanto à primeira, importa a sua tripla dimensão: sustentabilidade social, económica e ambiental.
No plano social, abrangendo a cultura e a educação (deixarei o acesso à habitação e à saúde para a resiliência, a tratar no próximo artigo), importa ter um Município de proximidade, garantindo o acesso a informação fidedigna sobre as diversas necessidades da população e sobre as formas mais eficientes e eficazes de lhes dar resposta.
Perceba-se:
a) na Ação Social priorizar ajudar no respeito pelo princípio da solidariedade moderno e democrático, em que se ajuda quem precisa de ser ajudado (sejam crianças, idosos, famílias monoparentais, etc.), na justa medida e em tempo, sem ter outros objetivos políticos subjacentes, e sempre com respeito pelo dinheiro público, não olvidando que o mesmo não nasce do nada mas sim é fruto do esforço de quem trabalha e paga os seus impostos. Deve-se pugnar por políticas concretas de solidariedade responsável que não deixam ninguém para trás e não de meras lógicas de caridade (que ofendem e humilham quem precisa), mas nunca fazendo da Ação Social um peça chave de uma máquina que fabrica e garante vitórias eleitorais;
b) na Cultura, impõe-se uma política que garanta e reponha centralidade e mesmo liderança às associações e às comunidades (Guimarães é riquíssimo nesse âmbito), dando o apoio justo e necessário, sem tentações de controlo, domínio ou hierarquias artificiais. Tal como as associações, comunidades e os próprios públicos (carecendo envolver todo o concelho no consumo cultural, priorizando a escola), os artistas e criadores vimaranenses devem ser o ponto de partida de qualquer política cultural concelhia e devem ser devidamente remunerados e não receber esmolas, transformando-os em voluntários à força, pois recebem simples ajudas de custo: no fundo são eles os principais financiadores da cultura em Guimarães ao não serem devidamente retribuídos pelo seu trabalho; e não é demagogia dizer-se que se há orçamento a sério para artistas internacionais, cumpre encontrar o justo equilíbrio e dar proporcional resposta aos vimaranenses. Para trabalho de qualidade igual, remuneração igual;
c) na Educação, aproveitando-se a transferência de competências, é urgente ir em socorro na nossa comunidade educativa a qual está em sofrimento e fadiga extrema: os nossos professores, que fazem milagres atentas as condições oferecidas, devem ser reconhecidos e respeitados na sua função, retrocedendo-se no caminho seguido de transformar e cercar a ação nobre e apaixonante de ensinar de burocracias tentaculares que impõem uma insultuosa e redutora proletarização mecanicista. Para além da autoridade democrática que deve ser garantida a todos os professores por ser sagrada, importa desburocratizar a função e dar a devida atenção (o carinho do genuíno respeito) a quem tanto faz por tão pouco, tendo presente que as carreiras profissionais que se lhes oferecem não são minimamente apelativas. Bem sabemos que nesse campo o Ministério da Educação é quem mais ordena, mas, porque não ser o próprio Município a ser fator de mudança e dar voz e visibilidade a esta triste realidade; os auxiliares e pessoal não docente, atento o seu reduzido número por relação às reais necessidades, fazem um esforço notável e hercúleo para que as nossas escolas funcionem com o mínimo de normalidade; Por vezes, estou certo, até se sentem invisíveis, não se lhes reconhecendo a importância do seu trabalho para o sucesso da comunidade escolar; Os pais e alunos, depois de uma pandemia que trouxe necessários retrocessos, fazem, no limite do humanamente suportável, todos os possíveis para recuperar o tempo perdido, tendo consciência que só fazendo frente a todas as dificuldades podem os alunos ter centralidade num mundo cada vez mais competitivo, sendo a educação pedra angular para se garantir um futuro melhor, individual e coletivo; as direções escolares e quadros intermédios e administrativos, sob pressão constante, fazem tudo para que nada falte dentro do possível, sabendo e tendo consciência que as carências são muitas; A todos é obrigatório a nossa comunidade e o nosso Município publicamente dizer OBRIGADO. É o mínimo.
No plano da sustentabilidade económica é fundamental perceber a nossa realidade atual: estamos a perder competitividade, incluindo face a concelhos vizinhos. Quem o diz são os números, não sendo matéria de opinião. Sem uma diplomacia económica mais agressiva e sem um ecossistema mais amigo das empresas e da criação da riqueza será difícil inverter a tendência; Para não sermos um concelho condenado a salários mínimos, temos de diversificar e garantir uma via verde para quem quer investir em Guimarães, sobretudo para quem quer criar postos de trabalhos qualificados, logo melhor remunerados, bem como aumentar as zonas industriais disponíveis, com bons acessos e com um mínimo de escala.
No plano da sustentabilidade ambiental, não obstante se terem dados passos relevantes, continuam as notícias de poluição dos nossos recursos hídricos. Tais práticas têm de acabar. Importa, também dar importância às demais fontes de poluição, visando a descarbonização, e ter uma política de gestão de solos mais amiga do ambiente, priorizando e incentivando a reconstrução em vez da construção de raiz e, no limite, permitindo urbanizações de baixa densidade. A adesão a um conceito de concelho-cidade, ligado por uma boa e moderna resposta de mobilidade, será o caminho, daí ser necessário uma aposta mais robusta nos transportes públicos verdes e na diminuição da necessidade de utilização do automóvel particular (este artigo terá parte II).