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Negação da política

Bruno Fernandes
Opinião \ terça-feira, junho 29, 2021
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É evidente que Domingos Bragança não acredita que é possível ter dois feriados nacionais, no mesmo mês, a celebrar a mesma coisa: a nação. O Partido Socialista chegou muito tarde a esta causa

A ideia de comemorar o Dia de Portugal no 24 de junho existe na sociedade vimaranense há muito tempo. Vários cidadãos isolados ou em grupos mais ou menos organizados se referiram a este desígnio no passado. Se atentarmos no que se celebra nesse dia, é perfeitamente natural.

A 24 de junho, comemora-se aquela tarde de 1128 em que duas visões políticas distintas para a governação do condado Portucalense se travaram de razões, às portas de Guimarães. Venceu D. Afonso Henriques e os nobres portucalenses e o território começou a ganhar, nesse momento, independência face à nobreza galega e ao arcebispo de Compostela. Essa vontade de autogoverno era tão grande que gerou uma corrente imparável de onde veio a nascer Portugal.

É, portanto, natural que muitos, achem que o 24 de junho seria o dia mais adequado para comemorar a nação. “A primeira tarde portuguesa”, sem a qual nada do que depois aconteceu seria possível.

Contudo, os argumentos de quem defende o dia da morte de Camões – o 10 de junho – não são desprovidos de razoabilidade. É verdade que os portugueses são reconhecidos e reconhecem-se pela Expansão Marítima dos séculos XV e XVI. Esse período das Grandes Navegações em que fomos pioneiros, em que lideramos a primeira vaga da globalização, fez de nós “Heróis do Mar”. O resultado dessa abertura ao mundo foi o disseminar da língua portuguesa por todos os continentes. É compreensível que para alguns, o poeta que cantou a Epopeia Marítima dos lusitanos na língua que tanto pode ser a portuguesa como a de Camões, seja o símbolo maior da nacionalidade.

Esta é uma das razões pela qual me apaixonei pela política e pelo debate de ideias, desde muito jovem. Frequentemente chegamos a encruzilhadas deste tipo, em que a solução não é simples, em que, ainda que estejamos de um dos lados, reconhecemos no outro argumentos válidos. Esse é o lugar da política, defendem-se posições, trocam-se argumentos, cede-se numas coisas, em outras não é possível, fazem-se propostas de síntese, votam-se, chega-se a um resultado final que se espera que seja o melhor para a comunidade.

Em 2008, o PSD decidiu trazer para a esfera da política, como deve ser, a vontade popular que se manifestava de fazer do dia 24 de junho “Dia de Portugal” e, obviamente feriado nacional. A proposta que a bancada do PSD levou à Assembleia Municipal, em julho de 2008, era clara na afirmação de que o dia 24 de junho “deveria ser celebrado e solenizado oficialmente pelos portugueses e pelo Estado português como ‘Dia de Portugal’” e que “nenhuma outra data tem uma importância tão nuclear na nossa história”.

A proposta, aprovada na AM com os votos do PSD, CDS e PS, era uma tomada de posição clara para abrir um debate que se adivinhava que não seria fácil.

O Partido Socialista de Guimarães rompe agora com esta posição, enfraquecendo a capacidade negocial daqueles que querem ver o dia 24 junho elevado a “Dia de Portugal”. Diz Domingos Bragança que a data deve ser comemorada como “Dia Um de Portugal”, sem interferir com o 10 de junho que está muito bem como “Dia de Portugal”. Se não fosse uma questão tão séria seria risível.

É evidente que Domingos Bragança não acredita que é possível ter dois feriados nacionais, no mesmo mês, a celebrar a mesma coisa: a nação. O Partido Socialista chegou muito tarde a esta causa, senão, desde 2008 já tinha feito mais por ela. Chega agora, porque estamos em ano de eleições e fá-lo de forma desastrada e sem convicção.

Incapaz de defender uma causa em que não acredita, Domingos Bragança opta por uma posição que lhe garante a simpatia dos dois lados. Defende que o 24 de junho devia ser feriado para agradar a uns e não defende que devia ser “Dia de Portugal” para agradar a outros. A atitude do Partido Socialista de Guimarães, neste caso, é a negação do que a política devia ser.

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