Novembro em Abril
Todos os anos, por alturas do 25 de Abril, é comum ouvir muita gente defender que o 25 de Novembro também deveria ser feriado.
Não há dúvida de que nos meses que se seguiram ao 25 de Abril, houve uma enorme agitação política e social que se traduziu numa série de atentados à liberdade e à dignidade da pessoa humana (são conhecidos diversos casos de prisões arbitrárias, de tortura, de chantagem, de censura, de ocupações e das mais variadas formas de violência). Se é verdade que este tipo de agitação foi comum a quase todas as revoluções, não é menos verdade que os crimes cometidos nestes contextos acabaram sempre por ser condenados pela opinião pública.
Se nos quisermos perder na inutilidade de procurar os culpados pela situação, devemos primeiro deter-nos naqueles que detinham o poder antes do 25 de Abril e que, a todo o custo, impediram uma transição democrática gradual e pacífica. E depois devemos condenar com igual veemência aqueles que, tendo lutado contra o anterior regime, acabaram por mimetizar o pior da ditadura. Mário Soares acusava ambos de terem o mesmo “mecanismo mental”, o que é verdade.
Foi o 25 de Novembro que acabou com esse período de arbitrariedades e contribuiu para que Portugal se tornasse mais estável do ponto de vista político e social. E ainda bem!
Não devemos, contudo, colocar no mesmo patamar uma data que acabou com alguns meses de arbitrariedades e de intentonas a uma data que pôs fim a 48 anos de ditadura. Não faz sentido.
No dia 17 de Junho de 1665 dava-se a importante Batalha de Montes Claros, uma das últimas grandes batalhas da Guerra da Restauração, fundamental para levar a bom porto o movimento iniciado em 1640. Contudo a data que hoje é assinalada é o 1º de Dezembro de 1640 (que representa a rutura com o domínio filipino). A comparação é simplista e talvez não muito feliz, mas serve o propósito a que se destina.