O bónus é CEO
O Instituto Nacional de Estatística publicou recentemente os dados relativos aos salários médios em 2022. O jornal digital “Dinheiro Vivo” fez as contas e concluiu que apenas os gestores de topo tiveram aumentos salariais acima da inflação. Além de serem a classe profissional com a média de salário liquido mais elevado - 1759 euros por mês – conseguiram um aumento de 9,6%, acima dos 7,8% da inflação registada em 2022.
O Governo tem dito e repetido que aumentar salários e pensões em linha com a inflação provocaria uma espiral inflacionista impossível de controlar. O resultado é obvio, perda de poder de compra e de qualidade de vida. Além de ter pouco fundamento, uma vez que a inflação é provocada essencialmente pelo aumento dos preços da energia, parece que afinal salários e poder de compra de alguns estão devidamente protegidos.
O ministro João Galamba leva este descaramento ainda mais longe. A semana passada disse que o bónus milionário da CEO da TAP é para ser pago, porque é o que está no contrato e o Estado honra os compromissos. Seria bom relembrá-lo que os salários dos funcionários da TAP também estavam contratados e cortá-los viola os compromissos assumidos. Também deveria ser relembrado que o tempo de serviço que os professores reclamam também estava no acordo até alguém decidir rasgá-lo.
A realidade na TAP é a realidade de muitas empresas nacionais. Os desfasamentos entre os salários dos gestores de topo e a generalidades dos salários dos funcionários da base são gritantes. Em 2021, o CEO da Jerónimo Martins ganhava 262,6 vezes o salário médio dos trabalhadores do Pingo Doce. Não estamos a falar de um salário mais elevado para compensar tarefas complexas e responsabilidades acrescidas, é uma transferência direta do rendimento das classes mais baixas para as mais elevadas.
Assistimos frequentemente a aumentos salariais residuais para os trabalhadores e a aumentos significativos para os administradores. A política de baixos salários para a generalidade dos trabalhadores gera situações graves de pessoas que, apesar de terem trabalho a tempo inteiro, o salário não lhes garante a saída de uma situação de pobreza e exclusão social.
Por isso, é preciso legislar para impedir a existência destas desigualdades. As disparidades salariais absurdas entre administração e trabalhadores têm de acabar. O Bloco de Esquerda propõe que ninguém possa ganhar mais num mês do que um trabalhador da mesma empresa num ano. É uma medida justa. Comecemos pelas empresas públicas e depois pela criação de mecanismos para se aplicarem nas empresas privadas fornecedoras do Estado e que queiram concorrer a concursos púbicos ou obter financiamento público.