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O efeito Álvaro

Pedro Carvalho
Opinião \ segunda-feira, dezembro 04, 2023
© Direitos reservados
Entramos confiantes no campo e nas bancadas. Não vamos a medo, não estamos com receio que uma perda de bola resulte num golo adversário. Agora não tememos que a qualquer momento ocorra uma reviravolta

Esperei até agora para escrever sobre o efeito Álvaro Pacheco. Não é um messias, não é um predestinado, mas a chegada dele ao Vitória trouxe um futebol ofensivo que já não se via há algum tempo no reino vitoriano. Mas mais do que isso, logrou, em pouco tempo, criar laços com os jogadores e com os adeptos, e fez-nos de novo acreditar que podíamos e podemos ganhar a qualquer adversário.

Entramos confiantes no campo e nas bancadas. Não vamos a medo, não estamos sempre com receio que uma perda de bola resulte num golo adversário. Agora não tememos que a qualquer momento haja uma reviravolta no resultado. Era percetível esse sentimento de receio e medo nos jogadores, era percetível esse mesmo sentimento nas bancadas. Aliás, nunca vi, como nas duas últimas épocas, um silêncio tão ensurdecedor nas bancadas, o desalento e a incredulidade tomava conta dos adeptos face a uma nova reviravolta no marcador, face a uma nova falha defensiva que resultava em golo adversário. Por vezes também existiram assobios. Mas o silêncio é que era inusitado e pesado. Os adeptos desesperavam com o carrocel de jogos ganhos sem brilhantismos e resultados confrangedores. Só algumas vitórias tiveram o condão de nos galvanizar, mas rapidamente havia um jogo que nos trazia de volta à realidade, apesar de em termos classificativos e de vitórias no campeonato termos conseguido resultados acima das expetativas face ao desempenho e qualidade de jogo praticado, obtendo no final uma razoável classificação, sem esquecer, contudo, que o campeonato português está cada vez menos competitivo e que o fosso entre os quatro primeiros e os demais clubes foi de pelo menos 20 pontos, tendo o Vitória, na última época, ficado a 25 pontos do Braga. Felizmente, com a criação da Liga Conferência, com o 6º lugar, ficamos apurados para esta competição europeia. Infelizmente fomos precocemente eliminados, o que foi péssimo não só em termos financeiros, como também em termos de prestígio, como também deixamos de contribuir para a melhoria do ranking de Portugal na UEFA. Mas mais que isso, essas eliminações perante equipas qualitativamente inferiores, provocou um pessimismo e tristeza generalizada entre os adeptos e uma nova demissão, desta vez do treinador principal.

Mas Álvaro Pacheco, após o inenarrável Turra (que António Miguel Cardoso foi contratar e que teve um reinado curto e económica ruinoso para as finanças do Vitória, porque continua a ser pago e o seu salário é superior ao salário de vários jogadores preponderantes no clube), conseguiu recuperar, em pouco tempo, a equipa e trazer um estilo de jogo e uma nova atitude que contagiou os adeptos e proporcionou a comunhão entre todos.

Claro que não podemos embandeirar em arco, porque há ainda muito campeonato pela frente, e vamos certamente sofrer percalços e o plantel precisa rapidamente de ser reforçado, porque em termos de ataque não temos um ponta de lança e o que tínhamos (apesar de também não ser um claro jogador de área) deixamos sair, quando este tinha sido o nosso melhor marcador. E para o lugar de Anderson Silva contratamos Adrian Butzke, o qual não só não convenceu os sucessivos técnicos, como, nos poucos minutos que teve de jogo, demonstrou não ter qualidade suficiente para vestir a camisola do Rei. Poderia, face à altura que tem, ter jogo de cabeça, mas também, mesmo que assim seja, com a exceção do Bruno Gaspar, não temos quem vá à linha e centre bem para a área. Acontece que Butzke é um dos jogadores mais bem pagos do plantel, auferindo mais de 25 mil euros mensais, quando por exemplo o Jota Silva aufere bem menos que este. Mais um salário elevado negociado por esta Direção por um jogador que nunca deverá ser titular. E para o Vitória ir ao mercado e contratar um ponta de lança de qualidade, é preciso disponibilidade financeira, coisa que o Vitória não tem, uma vez que apesar de uma época de vendas recorde, e a venda de parte do capital social à V. Sports, o certo é que o Vitória teve que contrair entretanto um empréstimo de 11 milhões de euros e aumentou o passivo, tendo obrigatoriamente que vender um ou vários jogadores para fazer face às despesas e dívidas que se avolumaram, o que tudo impede, em condições normais, o reforço do plantel com jogadores de qualidade.

Foi feito um mau planeamento desportivo, com reforço para além do necessário do meios campo – a vinda de João Mendes, em final de contrato com o Chaves, era o único reforço que precisávamos –, quando era necessário reforçar a defesa, em particular os laterias, pois se o Mangas é uma boa opção, continua a haver necessidade de pelo menos mais um lateral, até porque o Bruno Gaspar é recorrentemente assolado por lesões, e principalmente era necessário reforçar o ataque, pois carecemos e muito de um “matador”. Não temos ninguém com essas caraterísticas, sendo obrigados a jogar com o Jota Silva e André Silva, como jogadores mais avançados, o que não é solução se temos qualquer ambição em termos de campeonato e Taça de Portugal, porque se o primeiro dá tudo em campo e tem conseguido marcar alguns golos importantes, já o segundo, apesar de também ser, em alguns jogos, decisivo, nunca será o ponta de lança que carecemos, nem o jogador desequilibrador que se esperava. Este foi, face ao investimento efetuado – é o jogador mais caro da historia do Vitória –  e aos salários que o mesmo aufere – é o jogador mais bem pago do plantel – uma relativa desilusão, pois não basta ser uma jogador um pouco acima da média, devia ser um jogador de topo. Pagamos 4 milhões por ele, e este recebe 50 mil euros por mês. Quem o escolheu e quem aceitou pagar esse valor pelos direitos económicos  e aceitou pagar esse salário, deveria prestar contas aos sócios.

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