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O Euro do nosso (des)contentamento…

José Fidalgo Martins
Opinião \ quinta-feira, julho 04, 2024
© Direitos reservados
O clubismo exacerbado, eleva à condição de “herói” o jogador do nosso clube que brilha com a camisola das Quinas e em sentido contrário, torna o jogador do clube rival um autêntico “saco de pancada”.

À hora que esta crónica é escrita é ainda uma incógnita o percurso e eventual sucesso da nossa Seleção no Campeonato da Europa de Futebol que se disputa na Alemanha. As expectativas são elevadas. Portugal possui alguns dos melhores intérpretes da modalidade, sendo naturalmente apontado como um dos favoritos à conquista do troféu.

Apesar da inequívoca qualidade dos nossos jogadores, que poderiam resultar numa comunhão completa entre os portugueses e a Seleção, observa-se como habitual uma relação de amor-ódio entre o típico adepto de clube e a equipa de “todos nós”. Esse sentimento é moldado pelas escolhas do selecionador, primeiro através da convocatória e depois das escolhas jogo após jogo. Observa-se assim uma relação direta e proporcional, entre o nosso “contentamento” com a Seleção e os respetivos protagonistas.

Não sei se este fenómeno é exclusivo de Portugal, mas, por cá, é bem espelhado nas manifestações públicas, quer na forma mais tradicional no café, entre dois ou três copos de cerveja bem bebidos, quer nas redes sociais, que se transformam em autênticos campos de batalha virtuais.

O clubismo exacerbado, eleva à condição de “herói” o jogador do nosso clube que brilha com a camisola das Quinas e em sentido contrário, torna o jogador do clube rival um autêntico “saco de pancada”, caso tenha a infelicidade de cometer algum erro fatal ao serviço de Portugal.

Arriscaria a dizer que o clima de guerrilha permanentemente instalado no futebol português, alimentado por programas “desportivos” doentios e três jornais diários pensados para fanáticos, ajuda a criar este vínculo emocional contraditório, quase irracional, com a Seleção Nacional.

Por outro lado, os Campeonatos da Europa e do Mundo, têm o condão de, a cada 2 anos, despertar os adeptos futebolísticos menos costumeiros, que saem à rua com um espírito verdadeiramente positivo, transportando-nos para um clima de festa de Norte a Sul do país. Se calhar, seguindo mais estes exemplos, o nosso (des)contentamento com o futebol e em particular com a Seleção, seria diferente...

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