O previsível colapso do Serviço Nacional de Saúde
Atravessamos tempos difíceis no âmbito da saúde em Portugal, nomeadamente no que diz respeito ao Serviço Nacional de Saúde. Perante muitos avisos e repetidas previsões, finalmente aquele entrou em colapso de uma forma indiscutível. Serviços de Urgência a encerrar total ou parcialmente e Serviços de Obstetrícia a encerrar recorrentemente, são as faces mais visíveis do colapso. Muitas causas contribuíram para este triste fim, mas mais uma vez se destaca a inabilidade política (ou pouca competência) para encontrar soluções atempadas. A isto acresceu uma esperança vã, que rapidamente se esfumou, de ter sido empossado um ministro para o setor que se presumia ter peso político e sabedoria na área em causa (ao contrário da anterior), mas que os resultados atuais levaram a concluir não ter capacidade (ou não lhe darem meios) para resolver os problemas.
Há aspetos que não se conseguem entender, como seja haver falta de recursos humanos e o Ministério das Finanças impedir os hospitais de contratar profissionais. Igualmente incompreensível é a tentativa de imposição de dedicação plena aos médicos e simultaneamente a demonstração de abertura para negociação de redução de horário para 35 horas semanais. Como seria esta diferença colmatada a não ser com mais contratações? Enfim, tudo parece traduzir uma ausência de rumo ou de uma estratégia que devia estar delineada há muito, mas em que o improviso, a falta de planeamento, a incompetência e a insensibilidade para os problemas se misturam. Não sabemos com tudo isto vai acabar, mas independentemente de um final mais ou menos feliz (que não se vislumbra no horizonte) a situação nos tempos correntes traz uma grande insegurança para a população, ao fim e ao cabo para todos nós.
Ninguém está livre, por exemplo, de precisar de uma cirurgia de urgência, de ter um acidente grave que obrigue a recorrer a uma urgência hospitalar, de ter um enfarte cardíaco ou um acidente vascular cerebral (AVC), onde um pronto tratamento nas primeiras horas pode ser importantíssimo para melhorar o prognóstico, ou ser mesmo vital. Se a Urgência mais próxima estiver encerrada, processar-se-á uma transferência para outra mais longínqua e assim sucessivamente até encontrar uma aberta! E o tempo a passar! Este estado anárquico é inédito no nosso país, o que não é nada abonatório sobre quem nos governa, e onde constitucionalmente está determinado que todos os cidadãos têm direito a cuidados de saúde acessíveis e de qualidade. Os governos eleitos têm a obrigação de não gerar intranquilidade e de resolver os problemas das populações, e não há problema mais grave do que a falta de cuidados de saúde. Todas temos o direito de gritar: NÓS QUEREMOS SER TRATADOS! Além disso importa perguntar para onde vão os nossos impostos num regime com uma carga fiscal asfixiante?
Não me lembro de alguma vez ter assistido em Portugal a uma situação tão grave, nomeadamente no que diz respeito aos Serviços de Urgência, em que se chegou ao ponto de em alguns locais os cidadãos estarem proibidos de a eles recorrer. E é bom que todos estejamos cientes que não estamos a falar de situações programadas, mas sim de episódios de urgência imprevistos para os quais qualquer um de nós ou dos nossos pode precisar de cuidados médicos imediatos. Resta-nos esperar que no mais curto espaço de tempo haja resolução desta situação tão grave e potencialmente lesiva para TODOS nós!