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O que somos...

Filipe Fontes
Opinião \ terça-feira, janeiro 28, 2025
© Direitos reservados
Na verdade, do que estamos todos sedentos (julga-se) é da palavra sábia que vale, da imagem fiel que retrata, do acto corajoso que é eficaz e coerente.

“O que somos” foi (e é) pergunta repetida ao longo do tempo e que se afigura tão recorrente quanto pouco consensual, ora por força da desmultiplicação de respostas, ora pela incapacidade de superação de uma diversidade social, cultural, biológica e antropológica que deve enriquecer o corpo da estrutura, mas não pode colidir com a sua estabilidade e segurança. Na verdade, procuramos respostas válidas e satisfatórias e balançamos entre “sou eu e a minha circunstância”, “sou o que deixo e o que consigo ser”, “sou o que serei capaz de sonhar”, “sou o que faço e não o que digo”, “sou…” mil formas de concretizar a humanidade que encerro e desenvolvo.

“O que somos” retrata uma busca incessante do nosso entendimento e procura de uma legitimação do que fazemos, do modo de actuação e pensamento que nos permita pacificar interiormente e serenar as relações com os outros, afinal, aquilo que nos transforma em pessoas.

Nesta fatalidade incontornável, mas potenciadora, a palavra, a imagem e a acção são presença constante e encerram, cada um deles, um valor individual intransmissível e qualitativo. Todavia, sem prejuízo de tal, sedimentam-se e adquirem uma escala, proporção e consequência quando justos e conjugados, que é de todo aconselhável não relativizar, antes reflectir criticamente para aprender e apreender, ou seja, para reforçar em caso positivo, para corrigir em caso negativo.

Estas três realidades — palavra, imagem e acção — não são inócuas nem complemento, antes verdadeiramente estruturantes, quer para o que somos, quer (sobretudo) para o que transmitimos e para a forma como o outro nos vê e entende.

A palavra é a chave da comunicação e a sua clareza e sã construção factores fundamentais para uma plataforma de entendimento indispensável, bem como para a fixação de uma estrutura de coerência e ligação “ao que faço e ao que digo”, também indispensável. Ora escrita, ora oral, ora perenizada, ora mais rapidamente difundida, a “boa palavra” deve ser escutada e, sobretudo, consequente e coerente com o que somos e fazemos.

A imagem é o espelho da palavra, é outra forma de comunicação, silenciosa, mas visual, gráfica e agrafada aos nossos olhos e mente, para além da prova irrefutável da nossa acção, validando ou rebatendo o nosso discurso e consciência.

A acção é a síntese do que fazemos e a prova final do que somos capazes e de como somos capazes. Simplesmente indisfarçável, acredita-se que é aqui que tudo se joga, mostra e comprova, sendo convicção de que posso ser homem sem palavra e homem feito de sombras, mas nunca serei diferente ou divergente de tudo aquilo que os meus actos materializam!

Num momento em que se vive em mudança permanente, em que a palavra se torna viral, a imagem se difunde em (quase) simultaneidade com a acção e esta é alvo de informação e desinformação, num processo em que a distinção e a identificação da verdade e da mentira competem pela sobrevivência, a noção da importância destes três elementos e o seu respectivo uso parcimonioso e ponderado, tão austero quanto assertivo, é desafio maior para todos nós e requisito primário de uma democracia saudável e “sustentável”.

Nestes primeiros tempos de 2025, inicia-se novo processo autárquico electivo e, com ele, a necessidade do uso reforçado da palavra, do apelo à imagem atractiva e, deseja-se, a demonstração da coerência e valor do acto praticado e do acto prometido. Não serão inócuas as palavras e os seus verbos feitos sínteses: mudar ou afirmar, crescer ou ousar, entre outros, têm significados próprios e valores que transmitem mensagem e convencem as pessoas…. Que merecem usufruir da certeza e da perenidade da confiança e estabilidade inspiradas por essas mesmas palavras. Não serão inocentes as imagens difundidas, os locais percorridos, as pessoas feitas acompanhantes e interlocutoras, as cores selecionadas. E não serão isentos de análise e crítica, avaliação e exigência os actos praticados, por mais simples abraço dado!

Na verdade, acredita-se que o bom uso e recurso à palavra, à imagem e à acção fará deste período electivo substancialmente mais rico e promissor, desafiante e motivador para todos, mais singular e disruptivo de um passado nem sempre sinónimo de “bom uso”!

Afirmar mudança ou mudar com afirmação, surgindo ao lado do que “estão e foram” ou dos “novos que serão”, prometer a “boa nova”, assumindo compromissos com o presente arrastado ou prometendo tempo diferente sem noção da realidade que condiciona é algo que todos dispensam, desde logo, a própria democracia! Porque, na verdade, do que estamos todos sedentos (julga-se) é da palavra sábia que vale, da imagem fiel que retrata, do acto corajoso que é eficaz e coerente. E de serenidade e verdade, e de consequência e de caminho. Afinal, nada de novo, tudo ciclicamente repetido! Sinal de que algo não tem sido praticado e urge reverter… a ver vamos!

(texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico)

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