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Serviço Nacional da Saúde e a importância da formação médica especializada

Prof. Dr. José Cotter
Opinião \ domingo, junho 05, 2022
© Direitos reservados
Prevê-se que a debandada de profissionais continue, deixando o SNS cada vez mais depauperado e a formação médica cada vez mais prejudicada.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é eternamente deficitário, necessitando recorrentemente de injeções financeiras estatais para dessa forma ir cumprindo os seus objetivos (proporcionar cuidados de saúde de qualidade, com boa acessibilidade, à generalidade da população). Claro que nem todos têm sido cumpridos, nomeadamente no que respeita à acessibilidade, uma vez que as listas de espera se avolumam nos hospitais e existem imensos cidadãos que continuam sem ter médico de família.

Isto sem que os políticos encontrem, desde há anos, solução para resolver estas questões. Agora surge um novo fenómeno que agrava mais os problemas existentes e que se relaciona com a saída dos profissionais do SNS, tendencialmente para trabalhar em estruturas privadas ou para emigrar para países com sistemas mais apelativos e que proporcionam, entre outras mais-valias, condições remuneratórias mais dignas.

Então o que vai prendendo os profissionais médicos, nomeadamente hospitalares, ao SNS? Antes de mais uma vocação intrínseca que se confunde em muitas circunstâncias com um espírito de solidariedade social, tendo em consideração que muitos cidadãos não têm possibilidades económicas que lhes permitam recorrer aos cuidados de saúde privados. Além disso alguns outros fatores entre os quais a possibilidade de formar novos médicos nas respetivas especialidades, vertente aliciante e gratificante (moralmente falando).

Após a sua licenciatura nas respetivas faculdades, os jovens médicos iniciam um processo formativo de alguns anos (em média cinco) em que vão adquirindo conhecimentos e prática relacionados com a especialidade que escolheram. São coordenados por um orientador de formação, experiente, que lhes baliza a atividade e que contribui para a maior transformação profissional que, na maioria dos casos, vão ter ao longo da sua carreira. Tratam-se pois de jovens médicos, na maioria com imensas capacidades, mas, como é lógico, com uma escassa experiência  que os leva inevitavelmente a necessitar de um apoio experiente, amigo, bom conselheiro, sempre disponível.

E esse processo é aliciante, pois permite assistir em poucos anos, a transformações extraordinárias, como quem assiste à evolução (científica neste caso) de um bebé até à idade adulta. Entregues e concentrados na sua formação, estes jovens profissionais adquirem competências em tempo record que lhes permitem literalmente num curto espaço de tempo tornarem-se em excelentes profissionais, aliando conhecimentos teóricos a uma prática cada vez mais vasta e imprescindível, que permitem prestar melhores cuidados de saúde à população.

Assistir diariamente a este processo evolutivo é dos fenómenos mais gratificantes que existem para quem gosta de ensinar e partilhar a experiência. Atualmente, em Portugal, este fenómeno é, salvo algumas exceções, apenas possível no SNS. Por quanto tempo? Veremos, pois os centros privados vêm adquirindo capacidades que legitimamente lhes permitem ambicionar também fazer formação.

Este aspeto gratificante para os profissionais do SNS não é contudo, por si só, suficiente para os aliciar a ficar no SNS. Na atualidade o SNS é muito pouco apelativo, em termos de condições de trabalho, flexibilidade de horários, condições remuneratórias, recursos técnicos, logísticos e humanos, autonomia dos Serviços e Instituições, num país que, na prática, está cada vez mais centralizado.

Por isso prevê-se que a debandada de profissionais continue, nomeadamente dos mais experientes e cobiçados pelo setor privado, deixando o SNS cada vez mais depauperado e a formação cada vez mais prejudicada. A não ser que se encontrem, num golpe de asa que até agora nunca aconteceu, soluções que invertam a tendência atual e que permitam salvaguardar a qualidade do SNS e por consequência dos cuidados prestados à população que a ele acorre.

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