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O turismo arqueológico em debate

Gonçalo Cruz
Opinião \ quinta-feira, dezembro 05, 2024
© Direitos reservados
Juntou áreas de atuação distintas que, muitas vezes, trabalham separadamente, ou por força das circunstâncias, ou por alguma incompreensão, que admitimos como mútua.

O auditório do Museu de Arqueologia Dom Diogo de Sousa acolheu, no passado dia 30 de novembro, um encontro de turismo arqueológico promovido pela rede ArqueLoci, uma plataforma criada recentemente, que se propõe articular ações de dinamização do património arqueológico enquanto recurso turístico-cultural.

A iniciativa, co-organizada pelo Grupo de Amigos do Museu, juntou protagonistas com diferentes responsabilidades na área, desde a tutela pública, aos museus, autarquias e várias entidades privadas, não apenas da região Norte do país.

A principal inovação deste encontro esteve, desde logo, no facto de ter juntado áreas de atuação distintas que, muitas vezes, trabalham separadamente, ou por força das circunstâncias, ou por alguma incompreensão, que admitimos como mútua. Esta desconfiança  costuma manifestar-se entre o grupo dos investigadores e técnicos que estudam e conservam, e os agentes económicos que procuram retorno, em relação à atuação e objetivos de cada grupo.

Posicionando-nos no primeiro destes campos, importa considerar que quando propomos, pedimos, ou mesmo lutamos, por investimentos na conservação ou valorização dos sítios arqueológicos, fazemo-lo por uma questão de princípio fundamental, e legal, de salvaguarda do património comum. Nada obsta, contudo, e pelo contrário, a que se procure um retorno desse investimento, que pode assumir diferentes dimensões, entre as quais a social e cultural, não necessariamente turística, e a económica, que é propiciada pelas diferentes áreas de atividade a que chamamos turismo cultural. Retorno económico que é, naturalmente, difícil de atingir, porque implica um trabalho contínuo de promoção, de estudo, de dinamização, de atração de públicos muito particulares e que tem que ter sempre em linha de conta a particular fragilidade do "recurso base". Esta responsabilidade compete, de facto, aos dois campos suprarreferidos.

Foram divulgados, neste encontro, vários casos de valorização turístico-cultural, desde a villa romana do Cerro da Vila, no Algarve, a Tresminas, em Trás-os-Montes, passando pelo exemplo beirão de Centum Cellas, apresentados no Minho, região em que o património arqueológico musealizado gira ainda muito em torno dos castros mais conhecidos, valorizados com recursos muito limitados, de alguns dos vestígios estudados na área da antiga Bracara Augusta e de alguns sítios megalíticos, em cuja musealização se estão a dar os primeiros passos.

Por tudo isto, o encontro foi de particular pertinência e utilidade, sendo de todo recomendável que se repita, para que a questão não caia no esquecimento a que o dia-a-dia nos tenta submeter.

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