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O ranking fez soar os alarmes

Carlos Rui Abreu
Opinião \ sábado, abril 15, 2023
© Direitos reservados
Em Portugal enquanto cada um olhar apenas para o seu umbigo e não para o todo do futebol nacional, a nossa Liga não sairá da cepa torta.

Os desaires desta semana das equipas portuguesas nas competições europeias, derrotas de Benfica e Sporting diante de Inter de Milão e Juventus, respetivamente, veio colocar de novo no centro do debate desportivo a competitividade do futebol português. Tudo porque a posição de Portugal no ranking da UEFA vai fazer com que o futebol luso perca um lugar na Liga dos Campeões já a partir da época 2024/2025.

É nesta altura, em que um dos três grandes emblemas do futebol nacional sabe, logo à partida, que não chegará ao pote da competição milionária que os sinos tocam a rebate. Começam a colocar em causa tudo e mais um par de botas que seja responsabilidade da Liga Portugal.

É certo que medidas estruturantes para aumentar a competitividade e atratividade do nosso campeonato tardam em serem implementadas mas as culpas principais têm de ser assacadas aos clubes do pelotão da frente. São os clubes que mandam na Liga e são os maiores que têm capacidade de influência sobre os demais.

Mas será que interessa aos ‘grandes’ terem por trás uma classe média que não torne a competição um passeio para eles? Olhando para os principais campeonatos europeus, e outros mais da nossa igualha, percebe-se que qualquer clube pode ganhar ou empatar em casa do outro. Por aqui, salvo raras exceções, os grandes vão chegando ao final da época com duas ou três derrotas porque não há verdadeiramente quem os coloque em causa. Sugam as receitas, a atenção mediática, os adeptos, tudo em Portugal gira em torno dos três grandes. O Braga tem conseguido intrometer-se amiúde no ‘barulho’ mas necessita de mais consistência competitiva para ameaçar os três da frente e não se tornar o ‘crónico quarto’.

O Gil Vicente foi o quinto classificado da época passada e ultrapassou, com relativa facilidade, uma equipa da Letónia numa das pré-eliminatórias da Liga Conferência. Mas não chegou à fase de grupos porque foi literalmente amassado pelo AZ Alkmaar, o quinto classificado da liga dos Países Baixos, precisamente o país com que Portugal discute o quinto lugar do ranking. A diferença de valores individuais, de orçamento, de tudo nessa eliminatória foi gritante.

Com certeza que a redefinição das verbas das transmissões televisivas e de todas as receitas a que os clubes acedem será um bom passe para um crescimento dos clubes de gama média do futebol português e, com isso, a competitividade aumentará. Os clubes da liga dos países baixos decidiram, há poucos anos, partilhar por todos as receitas das participações nas competições europeias. Foi um belo gesto e um contributo para o enriquecimento do campeonato.   

Em Portugal enquanto cada um olhar apenas para o seu umbigo e não para o todo do futebol nacional a nossa liga não sairá da cepa torta. De que vale ter uma Liga e uma Federação com os cofres cheios e com a vanglória de fecharem o ano com lucros de milhões se tudo à volta definha.

Mas creio também que não é só em quem decide que está o ónus da responsabilidade. Os adeptos do futebol também estão culturalmente tripartidos pelos clubes grandes e enquanto essa cultura não mudar e as pessoas não se virarem para os clubes das suas terras não há diretriz superior que possa alterar o rumo das coisas. Atentem, a título de exemplo, que o Arouca está a fazer um campeonato sensacional, está em quinto lugar e a preparar-se para ser um dos representantes de Portugal na próxima edição da Liga Conferência e tem, nesta altura, a pior média de assistências da Liga Portugal (1670 espetadores). Assim, não há competição que resista e Portugal continuará, sem consistência, a viver de uns brilharetes fugazes na Liga dos Campeões.

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