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Ir a reboque como estratégia

Esser Jorge Silva
Opinião \ terça-feira, março 21, 2023
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A lógica que devia organizar a decisão da ligação à alta velocidade é a região Entre-Douro-e-Minho, com Braga e seu poder religioso, Guimarães e sua dimensão industrial, e Porto com dimensão marítima.

Nada que já não se soubesse: Guimarães tem perdido capacidade criativa e, assim sendo, não projeta. Como não tem projetos, em consequência, não precisa de dinheiro porque não tem onde aplicar os fundos disponíveis. Não há que surpreender os motivos pelos quais as primeiras verbas no valor de 530 milhões de euros atribuídas ao Minho pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o concelho de Braga irá receber 274 milhões (52%), Famalicão, 90 milhões (17%), o concelho de Viana do Castelo (10,4%) e o concelho de Guimarães vai receber 40 milhões de euros (7%). Como sempre se soube, a imaginação é poder, enquanto a falta dela revela a pobreza de quem não imagina.

Imaginando e planeando, a Câmara de Braga já reservou 100 milhões de euros no âmbito do Portugal 2030 para o seu “Bus Rapid Transit” (BRT), também conhecido pelo eufemismo Metrobus. Acordado à 25.a hora de um sono profundo, sem plano e sem verbas, Domingos Bragança veio pedir um pacto de regime para aquilo que ele imagina ser a solução vimaranense para a ligação de Guimarães à Alta Velocidade. Trata-se de um apelo à moda da “Unidade Vimaranense” com vista promover-se o prolongamento da estratégia bracarense para Guimarães. A ideia foi, inclusive, levada à discussão na Assembleia Municipal por José Mendes, professor na Universidade do Minho, numa eterna estratégia do atual executivo vimaranense de por uma autoridade profissional a condicionar o pensamento político. Coisa assim a modos de fala quem sabe. E José Mendes, com inegável profissionalismo, explicou como o prolongamento da estratégia bracarense para Guimarães era uma boa notícia. Claro que a apresentação foi efetuada pelo modo inverso, isto é, como solução para os vimaranenses se ligarem à Alta Velocidade através da estação de Braga, ali pelo lado de Barcelos. “São só 40 minutos”, diz-se.

Ligar Guimarães à Alta Velocidade indo por Braga devia ter uma explicação além da ligação só por si. Mas não tem. Pense-se: qual a razão por que um vimaranense iria apanhar um comboio a Braga? Resposta: obviamente para seguir para… Espanha. E o fluxo de viajantes para sul, que obviamente será maior, como fará? Subirá a norte, durante 40 minutos para depois descer a Alta Velocidade para sul? Faz isso sentido? É obvio que não! Aliás, basta olhar para um mapa e entrar na cabeça dos engenheiros do século XIX que fizeram as linhas de então. Repara-se que não foi feita nenhuma ligação férrea entre Braga e Guimarães. Mas foi feita ligação entre o Porto e estas duas cidades.

Tal ocorre exatamente porque é essa a lógica regional, apesar de que os planeadores de agora entenderem o único senso de decisão reside na pergunta “Quanto custa?”. A lógica que devia organizar a decisão da ligação à Alta Velocidade é região Entre-Douro-e-Minho, onde gravita uma metrópole, constituída por Braga e o seu poder religioso, por Guimarães e a sua dimensão industrial, e o Porto com a sua dimensão marítima. Por algum motivo a Universidade do Minho assenta em dois polos. A não ser que Guimarães tenha deixado de ser o centro industrial, com mercadorias a seguir para o mar, todos os seus sentidos de existência apontam para sul e não para norte.

Este escrevedor guarda nos seus arquivos uma conversa gravada com Fernando Alberto Ribeiro da Silva, já no inverno da sua vida, onde ele fala da sua história. A certa altura da conversa, explica o seu percurso académico, no qual, após concluir o 5.o ano (atual 9.o ano), vai para o Porto onde, no Liceu Rodrigues de Freitas, concluirá o 7.o ano. É aí que surge a pergunta “e por que não foi para Braga?”. Mais do que a resposta, fica a imagem da surpresa de Fernando Alberto: “Nós não íamos para Braga! Ninguém ia… íamos todos para o Porto!”. Na sua expressão, a pergunta era totalmente descabida. Desengane-se quem veja nesta ideia uma disputa futeboleira Guimarães-Braga. Nada disso. A surpresa de Fernando Alberto tinha a ver com uma outra questão: o princípio da afirmação da terra por si mesma. Infelizmente percebe-se hoje que quem pauta a batuta dos caminhos futuros do concelho de Guimarães está a ser Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga. Rio tornou-se o mentor da região. Não só projeta, como avança, influencia o governo, convence Bruxelas, recolhe milhões para o seu território e diz a Guimarães que papel lhe resta. É triste!

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