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Passado composto para presente sem indicativo

Esser Jorge Silva
Opinião \ sábado, fevereiro 19, 2022
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Porque motivo se procedeu a um ativo processo de esquecimento da CEC 2012? Quais as razões porque agora se fez ressuscitar aquilo que se esforçou em fazer desaparecer das mentes durante dez anos?

Guimarães tem sempre muitos motivos de comemoração e isso faz sentido. Uma região com pergaminhos históricos, que remetem para a fundação da nacionalidade, coleta datas passadas que, em alguns casos, deviam resultar em várias festas por dia. Uma espécie de bom senso estratifica e institui o festejável, o que é compreensível: o centenário do Vitória Sport Clube tem prioridade em relação a outras agremiações vimaranenses. Assim como os 900 anos da Batalha de S. Mamede não tem comparação com outras escaramuças históricas.

As comemorações têm a faculdade de engrandecer o presente com a dimensão do passado. Somos hoje imensos porque fomos ontem grandes. Mas como serão vistos e interpretados estes nossos dias presentes, num qualquer dia futuro em que este nosso tempo já seja passado? Que contribuições damos hoje para as comemorações vindouras?

Um bom exercício, para compreendermos a questão aqui proposta são das comemorações, recentemente iniciadas, da passagem dos dez anos de Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura. Esta exaltação foi uma surpresa na medida em que, a partir de junho de 2013, por altura do encerramento do maior evento vimaranense desde 1884, deu-se um olímpico silenciamento de tudo o que pudesse estar associado à CEC 2012. 

A partir daí nada mais se discutiu, assim como nada mais se disse. Foram dez anos de instauração do esquecimento. Tendo trabalhado na equipa da Universidade do Minho que elaborou o relatório do impacto económico e social em 2012, sei dos milhares de dados estatísticos produzidos para constituírem o ponto de partida para comparações futuras. Pois, fruto do silenciamento e desinteresse que se instalaram, esses dados repousam na quietude de um disco duro, à espera que alguém se interesse por eles.

Esse silenciamento pode ser também encontrado no desaparecimento do espólio da CEC 2012. Onde estão as obras? Onde estão os quadros? Onde está a produção artística? Em que repositórios repousa a produção intelectual? Acautelaram-se direitos autorais? Quais as razões porque investigadores de várias universidades não conseguem aceder a material de pesquisa? Porque motivo se procedeu a um ativo processo de esquecimento da CEC 2012? Quais as razões porque agora se fez ressuscitar, em comemoração exuberante, aquilo que se esforçou em fazer desaparecer das mentes durante dez anos?

Uma das hipóteses de resposta pode relacionar-se com a inexistência de factos, acontecimentos, ou eventos realizados nos últimos nove anos com dimensão comemorativa. Subtraindo as sempiternas edificações justificadoras de uma certa ideia de progresso, olha-se para trás e parece que o tempo passou sem que nele fossem metidas pertinências capacitadas a entrar no calendário das relevâncias festivas do concelho. Neste particular, a ressurreição da CEC 2012 para a memória das festividades, tem aquele quê de apropriação do pretérito perfeito para engrandecer um presente sem indicativo.

É bem regressada a CEC 2012. Mas, por favor, não se aluda a impactes, positivos ou negativos que sejam, sem deles se ter tratado. Simplesmente a instalação do dispositivo de esquecimento, impediu, até agora, qualquer conhecimento desse impacte. Não sejamos falaciosos, portanto.

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