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"Saber ou não saber: eis a questão..."

Filipe Fontes
Opinião \ quarta-feira, fevereiro 22, 2023
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Depois, fica a esperança de algo terem aprendido. E que, novamente, o acaso os leve a saber escolher o vento que, então, melhor soprar… para a história se repetir.

Diz-se que a vida é uma descoberta e que saber, enquanto acto de experienciar, conhecer, informar, ler, relacionar, questionar, é tão inato quanto o acto de respirar.

Sabemos para melhor viver. Vivemos na inevitabilidade de uma constante conquista de saber. E inventamos locais para saber, sabendo que “o palco da vida” é o melhor local de aprendizagem.

Sabemos que não podemos evitar saber. E sabemos que só depende de nós saber na quantidade, qualidade e intensidade da nossa vontade e capacidade. Sabemos nós e todos os outros.

Famoso aquele extracto de um discurso na assembleia da república que aqui se replica livremente e sem certeza do rigor das palavras certas:  “eu sei que sabe que eu sabia que o senhor sabe”.

Saber ou não saber sempre foi dilema que acompanhou (e acompanha) a sociedade e que, hoje, parece instalado na vida societal portuguesa com redobrado e renovado protagonismo.

Impossível não saber que sabiam, possível saber que poderiam não saber. Souberam que sabiam depois de saberem que o melhor seria não saber. E não saber foi a escolha menos má, esquecendo-se que o outro sabia que eles só poderiam saber.

Sabiam, mas não se lembravam, forma dissimulada de não saber. Não sabiam que sabiam. E calavam-se porque sabiam que sabiam. Não queriam saber, desejavam por tudo não saber, mas afinal tiveram que reconhecer que sabiam. Deveriam saber, mas disfarçaram não saber. Não souberam saber e souberam que nada saber não é solução, apenas parte do problema. Se soubessem, interrogamo-nos se teria sido diferente. E perguntamo-nos como poderiam não ter sabido. Entre saber e não saber, a diferença é muito mais do que uma simples palavra negativa (“não”). É ser ou não ser, estar ou não estar, conhecer ou não conhecer, dever ou não dever, parte certa ou parte errada, oceano seco ou rio pleno, manifestação no deserto ou multidão em uníssono, …

Sabemos agora que também ousam desconfiar da possibilidade de, um dia, terem sabido. E que se submetem ao estudo do tempo para confirmar que sabiam. Submetem-se com medo de, um dia, serem confrontados com a evidência de saberem. E de terem negado saber. O tempo que passa e que tantas vezes convida ao esquecimento. O tempo que fica e que regista. Sinal do poder que a escrita se reserva a si mesma!

De tanto ouvirmos que não sabiam, desconfiamos de nós próprios e da nossa apreciação. São eles ou nós os impreparados… por ignorância, por distracção, por desconcentração ou por (in)conveniência? Não sabemos de todo. Apenas sabemos que souberam acomodar-se e que, afinal, não é preciso saber, basta ser feliz num determinado momento, ao acaso na história ou acerto no homem ou mulher “do partido”, ou no grupo, ou na associação, ou seja quem for (em)poderado. Depois, ser fiel e não questionar, saber a cartilha para não desperdiçar energia na subida. E subir sem saber não custa nem implica muito esforço quando o vento está de feição e temos quem nos empurre. Implica apenas saber aproveitar o vento. E descobrimos que, afinal, sabiam… pelo menos de que lado “corria o vento”. E que souberam acomodar-se para melhor subir. Acreditaram que, com bom vento também chega bom casamento. E souberam esperar e, depois, cobrar. E assim foi e assim será (não sabendo, apenas suspeitando…) até durar.

Depois, fica a esperança de algo terem aprendido. E que, novamente, o acaso os leve a saber escolher o vento que, então, melhor soprar… para a história se repetir.

Este texto deveria ser mais longo, mas o seu autor confessa não saber mais do que sabe. E se já mal sabe escrever do que sabe, confessa que nada sabe escrever do que não sabe. É triste, mas é a realidade. E, por isso, à tristeza juntamos esperança. Afinal de tanto não saber, há tudo para aprender. E saber. Quem sabe?

 

** o tema da habitação foi esta semana pleno de protagonismo para lá do seu problema, tendo sido alvo de perspectiva de caminho para solução. Tema demasiado importante para ser contornado e evitado. Tema que aconselha que não seja reflectivo “de forma imediatista e acalorada pela reacção emotiva”. Saber deixar passar “algum tempo” é avisado… Por isso, este tema trataremos no próximo texto…

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