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Ora agora mercadejas tu, ora agora mercadejo eu,...

Carlos Caneja Amorim
Opinião \ terça-feira, julho 02, 2024
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Pode o voto fazedor de maiorias governantes formais ser desenhado por terceiros nas mentes e nos espíritos das massas ditas soberanas? Sim, pode!

Ora agora mercadejas tu, ora agora mercadejo eu, ora agora mercadejas tu e mais eu. E virou!

No contexto do jubileu dos 50 anos do 25 de abril de 1974, e tendo falecido, ontem, o Gigante Fausto, eis um olhar melómano e de soslaio sobre o Vira da nossa atual 3.ª República.

Esser Jorge, sociólogo e intelectual de referência, at least, do noroeste peninsular, em dois artigos no “Jornal de Guimarães”, faz um duplo perscrutar, um duplo fotografar da substância perene: “A Mente Fabril” (fala da mente dos “Gigantes da Montanha”, das personalidades em posições de poder), de junho de 2023, e, um ano depois, “A Mente Burocrata” (remeto para as suas leituras).

Num jogo retórico e dialético de espelhos, replicando Kierkegaard e Erasmo de Roterdão (que só dialética e instrumentalmente atacavam a Igreja Católica: o fim mediato e verdadeiro era, precisamente, salvá-la), Esser Jorge, reportando-se ao concelho-cidade, fala dos males do hoje que maculam e obliteram a boa governança, mas visando, na denúncia que sobressalta, construir um novo tempo (o intelectual como fautor de mudança e de modernidade).

No meu próprio olhar, que não esgota o real, eis-me a filtrar um ideia estrutural  do país, como um todo:  localizo um colossal e estridente grito mudo que emite a sua radiação cósmica para todas as dimensões da nossa pátria comum. Fala da existência, na capital da pátria, de um ecossistema-marioneta-partidário-reinante, com potencial real de ser governo formal, o qual cristalizou um monopólio com pais incógnitos que exibe uma altiva plutocracia. É no limite do fatual reconhecer a existência difusa e diluída desta espécie de Adamastor de Bilderberg. Toda uma Real Corte dos Donos Permanentes Disto Tudo, com um exército de Siloviks pragmáticos, de cores rotativas, executantes cegos da estratégia da plutocracia reinante, para quem a democracia é um jogo de entreter, adormecer, iludir, tendo como soturno mastermind uma máquina de fabricar estímulos, os quais garantem e asseguram um alquímico e pavloviano reflexo obediente.

Pode o voto fazedor de maiorias governantes formais ser desenhado por terceiros nas mentes e nos espíritos das massas ditas soberanas? Sim, pode!

Prova I: reza a história, que Emídio Rangel, jornalista e diretor de informação da SIC, confessou, de forma expressa, referindo-se ao poder mediático do Grupo Impresa: “- Temos o poder suficiente para eleger um presidente!”).

Ato reflexo, em uníssono, como pergunta, solta o Coro da Tragédia lusa: “- E primeiros-ministros?...”

Esta força governante de facto, não corre riscos: nunca permite o crescimento mediático (único meio de chegar aos cidadãos na escala país) de protagonistas políticos seniores à séria, logo, nunca permite que alcance o poder, o protagonista político inteiro e autêntico, aquele que garante que nada nem ninguém está acima do poder político democrático.

Prova II: os interesses económico-financeiros da Corte do Status são a prioridade máxima que está subjacente à decisão e à ação dos políticos tolerados pelos Donos Permanentes Disto Tudo. Para se compreender as catacumbas desse poder, importa ver, e cada um tirar as suas conclusões, uma amostra em carne de viva: sugere-se degustação do podcast in - tratamento jornalístico, ainda parcial, da agenda de Ricardo Salgado, que, para além de outras pérolas, verbaliza uma Dr.ª Rita Barosa, alto quadro do BES, braço direito de Ricardo Salgado, a ser sugerida para Secretária de Estado das Autarquias Locais (matéria que não dominava de todo), no Ministério do Ministro Miguel Relvas, após indicação, segundo o programa, do Dr. Pedro Reis, atual ministro da economia.

Prova III: Foi ostensivamente claro, na história recente, que dois políticos à séria forma impedidos de ser primeiros-ministros: António José Seguro (da parte do Partido Socialista mais credível, sério, competente, patriótico e genuinamente democrático), e Rui Rio (do espaço do PSD incorruptível, com sentido de Estado e com uma força inabalável de servir a causa pública), nunca tiveram a justa possibilidade de disputar eleições em mediática igualdade de circunstâncias.

Prova IV: em Camarate, foi dado como provado tratar-se de um atentado (Comissão de Inquérito da Assembleia da República). Impõe-se a pergunta, então: Qual foi o móbil que esteve na base do assassinato de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa (e mais 5 mártires)?  Segundo a mais respeitada e reconhecida tese, tudo esteve relacionado com o facto do Governo da AD, com protagonistas políticos clássicos autênticos, num ato de “coragem de vida”, considerando a perigosidade das forças em causa (perigosidade essa que, infelizmente, se confirmou), decidiu de forma firme anular e denunciar negócios de armas de milhões, em que, à custa do Estado, alguns ganhavam, e a maioria esmagadora e silenciosa dos portugueses nem autorizava, nem conhecia, nem ganhava. O constitucional poder político decidiu, o inconstitucional poder de facto reagiu e impôs a sua lei.  

Ontem, como hoje, com talento singular na arte de mercadejar, forças ocultas existem que salivam na antecâmara de fatiar sortilégios venais que colonizam atuais e futuros Orçamento de Estado e demais Orçamentos Públicos.

Daí a vox populi  lisboeta que verbaliza só ser permitido chegar à cadeira máxima do poder executivo quem começa por ir ao “Pabe” (famosíssimo restaurante em Lisboa, em que, diz-se, é obrigação e rito iniciante de todo o aprendiz de feiticeiro com sede de poder pelo poder, despido de qualquer sentido de amor próprio, de dignidade, de decência e ética de serviço público. Todo ele ajoelhado de pé, amputado de grandeza.), ao beija-mão do fazedor de presidentes e primeiros-ministros.

Ir ao PABE, é apenas a Estação Primeira, é apenas o começo da peregrinação: plurais são os meses e semanas de um sem fim de humilhações rasteiras. Tudo termina algures, na calçada portuguesa da Rua Augusta, onde, de quando em vez, como rumor, na atrevida boleia da brisa, vinda do “Cais das Colunas”, uma mescla de litania e ladainha musicada, acaricia os ouvidos anónimos: “ORA AGORA MERCADEJAS TU, ORA AGORA…”     

CARLOS CANEJA AMORIM

Advogado e Deputado Municipal

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